O capítulo anterior apresentou os principais canais de comunicação e ferramentas sociais que utilizamos no trabalho com requisitos. Antes, em +Requisitos +Informação, vimos que uma Resposta = Informação + Confirmação + Ruído. Buscamos requisitos em respostas. Mas, como as obtemos? O que perguntamos?

Lá no início desta longa série, em +Requisitos do Negócio, foram apresentadas as questões que normalmente utilizamos na abertura de um projeto. Lembrando:

  • Qual ou quais problemas de negócio você precisa resolver?
  • Qual é a motivação para que se resolva este problema?
  • O que pode acontecer se ele não for resolvido?
  • Que tipo de solução está fora de cogitação? Por quê?
  • Você entenderá que este projeto foi um sucesso se…
  • Quanto vale esta solução?
  • Quais pessoas ou áreas serão afetadas pela implantação desta solução?
  • Quem poderá influenciar a construção desta solução?

A sequência acima nos ajuda a desenvolver uma linha de raciocínio. Mas, claro, existem infinitas variações. Não é todo entrevistado que tem autonomia ou conhecimento para responder algumas questões. E a natureza do projeto vai impor outras perguntas, mais específicas. O mais importante é sempre se lembrar de que é nos primeiros momentos de um projeto que muitas suposições são construídas. Ao repetir o questionário para pessoas diferentes reduzimos os riscos de interpretações equivocadas.

Vimos no artigo anterior que temos três grandes tipos (ou classes) de eventos: Abertura, Exploração e Fechamento. É na exploração (de requisitos) que esgotamos praticamente todo o nosso arsenal de perguntas. São apresentadas abaixo os tipos de perguntas que fazemos seguidas de alguns exemplos.

Perguntas Direcionadoras

Foco é a palavrinha mágica aqui. É muito fácil, particularmente em momentos iniciais de um projeto, que uma pessoa viaje na maionese, se perca no emaranhado de questões relativas ao projeto (e até de fora dele). Por isso precisamos elaborar perguntas que direcionem os participantes. Exemplos:

  • Qual problema você está tentando resolver?
  • Quanto tempo temos para a realização deste projeto?
  • Quanto você espera gastar?
  • Ao concluir esta operação, para onde o usuário vai?
  • Vocês utilizam códigos de barras para a identificação de produtos?
  • Manga com leite faz mal?

A última questão é uma interessante e didática piadinha. A penúltima, uma deixa para um alerta. Devemos evitar, particularmente nas fases iniciais de um projeto, questões que direcionem para respostas binárias (sim/não). Sendo assim, evitamos o uso de variações do é (são, foram, estão). Obtemos requisitos mais ricos ao utilizar que, quais e como. Aquela penúltima pergunta ficaria melhor assim: Como vocês identificam seus produtos? 

Lembre-se, toda resposta carrega, além de informação, algum tipo de confirmação e alguma quantidade de ruído. Quando fazemos perguntas abertas, como no exemplo acima, forçamos a colocação de algum tipo de confirmação. O entrevistado tende a falar mais, explicar melhor.

Perguntas Criativas

Há momentos em que as viagens devem ser evitadas. Mas também existem aqueles momentos e projetos em que tudo o que buscamos são bons e criativos devaneios. Há o tipo certo de pergunta para motivá-los. Alguns exemplos:

  • Há outra forma de resolver este problema?
  • De quais maneiras o usuário pode receber essa informação?
  • Você pensou na possibilidade de uso de dispositivos móveis?
  • Quais outras áreas da empresa veriam utilidade nesta ferramenta?
  • O que combina com manga?

Existem eventos que exigem apenas foco. Outros, como os famigerados torós de parpites (brainstormings), demandam generosa porção de questões criativas. O mais comum será o uso de um questionário que saiba combinar os dois tipos de questões.

Perguntas Retóricas

Estas devem ser evitadas a todo custo. Só criam mal estar e nunca geram informação. Alguns exemplos:

  • Então, você só tem 10 mil pra gastar, né?
  • Por que não procurou a gente antes?
  • E você não sabia que fulano é do contra?
  • O usuário ignora o aviso, clica aí e espera, né?
  • E você achou que manga com pinga e licor de menta cairia bem?

Pior que a combinação da última questão só uma mistura de reunião post-mortem, questões retóricas e jogo de culpa.

Metaquestões

Por fim, temos as metaquestões – perguntas sobre nossas perguntas. Elas nos ajudam a avaliar uma reunião ou até mesmo o processo de desenvolvimento de requisitos. Aos exemplos:

  • Estou perguntando demais?
  • Me esqueci de perguntar alguma coisa?
  • Você quer me perguntar alguma coisa?
  • Minhas questões são relevantes?
  • Você é a pessoa certa para responder isso?
  • Há mais alguém que deveria participar desta conversa?
  • Você me receberia novamente?

Sim, algumas delas são perigosas, particularmente as três últimas. Mas são necessárias, principalmente quando estamos prestes a encerrar um encontro e o gelo permanece intacto. Ou, pior ainda, quando as respostas são ruins a beça.

Opa!, quase me esqueci da manga. Segue o derradeiro exemplo: Eu deveria estar falando sobre mangas contigo?

E assim, depois de um longas férias de verão, recomeça a série +Requisitos +Conversas. Espero: i) Seguir contando contigo; ii) Que 2013 seja um ano muito produtivo para todos nós; e iii) Que você não tente combinar manga com pinga e licor de menta.

 

Notas

Três livros serviram como base para este artigo:

  • Exploring Requirements – Quality Before Design, de Gerald Weinberg e Donald Gause (Dorset House, 1989).
  • Redefinindo a Análise e o Projeto de Sistemas, de Gerald Weinberg (McGraw-Hill, 1990).
  • A Arte do Gerenciamento de Projetos, de Scott Berkun (Bookman, 2008).