Três sugestões de livros que ajudam a entender como a indústria de TI chegou até aqui.

A Informação – Uma História, Uma Teoria, Uma Enxurrada

Curiosa e rica biografia da Informação. O autor, James Gleick, parte de tambores africanos e nos traz até os dias de hoje. Pesquisa séria e muito ampla feita por quem entende e é apaixonado pelo riscado. Desde os primeiros capítulos ganhei um pensamento recorrente: como gostaria de ter conhecido essa história quando iniciava minha carreira. Porque nossa área enfatiza o T em detrimento do I. Até parece que a embalagem vale mais que o conteúdo. A obra de Gleick, fundamental desde já, coloca o pingo no I.

O destaque dos tambores que levavam mensagens a distâncias superiores a 150 km não é mera curiosidade. O componente que garantia a integridade da mensagem – a redundância – segue presente em nossas sofisticadas redes digitais. O trajeto entre as batucadas e o Bit, passando pelo código Morse e derivados, é particularmente saboroso.

Assim como as histórias entrelaçadas de Charles Babbage e Ada Lovelace. Descobrir um Babbage consultor (analista?) de negócios foi particularmente gratificante. Antes de projetar computadores de madeira o cara ajudou a definir o modelo de negócios dos correios (utilizado até hoje) e das linhas ferroviárias. Claro, são pequenas histórias paralelas. Porque o que interessa ao autor é a forma como Babbage e Ada entendiam a informação e como suas contribuições, tidas como fracassos por seus contemporâneos, seriam cruciais para a indústria que só nasceria cerca de um século depois.

É quando a teoria da informação – em polinização cruzada com a cibernética, teoria dos sistemas e afins – brota em uma era de ouro. Momento de encontro com Claude Shannon, Alan Turing, John von Neumann e todos os outros “pais” da Tecnologia da Informação. Também nos deparamos com James Watson e Francis Crick, que há exatos 60 anos descobriram o DNA, e Richard Dawkins, que nos legou o “gene egoísta” e o meme e segue plantando provocações. Gleick se preocupou em apresentar as pessoas em breves biografias. Contextualização que nos ajuda a compreender melhor por que e como o Iluminismo 2.0 (o autor não comete tal abuso – o exagero é meu) foi possível.

O livro é longo (528 páginas), mas acessível e agradável. A tradução de Augusto Pacheco Calil é muito boa.

Companhia das Letras, 2013. R$ 59,50 (impresso) e R$ 34,50 (digital), na Cultura.

From Airline Reservations to Sonic the Hedgehog

Se este livro fosse lançado hoje, a segunda parte do título seria Angry Birds. Nos últimos anos testemunhamos outra revolução no mercado de software. O que não invalida este estudo publicado em 2003 por Martin Campbell-Kelly. Como nasceu e evoluiu essa indústria que hoje produz bilionários como Mark Zuckerberg e Jeff Bezos?

Campbell-Kelly responde com muitos números, tabelas e gráficos. Responde, principalmente, com histórias bem narradas. São mais que curiosas as idas e vindas do mercado de software. Por exemplo, no início software era serviço. Nos anos 1970 brotaram os primeiros produtos (caixinhas, pacotes). Hoje testemunhamos uma volta?

Retorno por retorno, tem outro mais chocante. Na primeira metade dos anos 1950, quando a IBM vendia seu primeiro best-seller – o 701, ela entregava só o ferro. Cada cliente deveria desenvolver todo o software necessário. Inclusive rotinas elementares como a leitura de cartões perfurados. Não demorou para que clientes reclamassem dos altíssimos custos de desenvolvimento e manutenção. Nascia então, liderada por um gerente de vendas da própria IBM, a primeira comunidade open source da história: SHARE.

Naqueles tempos a programação era muito cara porque os programadores eram muito raros. A forma como eles eram recrutados, em escolas e estações de metrô, chega a ser hilária: Você gosta de matemática? Joga xadrez? É músico? Então é fortíssimo candidato para uma profissão do futuro! 

É desta época a segunda lei do Dr. Bauer: “O talento vai aonde a ação está”. A lei segue atual. Do Dr. Bauer não se tem notícia. Pena, porque o cara era bom. Em seus anúncios para atrair talentos ele explicava, em um P.S., qual era a sua primeira lei: “Se o programa tem um bug, o computador o encontrará”. As reproduções dos anúncios antigos dão um toque de humor ao livro.

O autor acabou de relançar Computer: A History of the Information Machine. Resta torcer para que ele também atualize este título. Boas histórias e anedotas não faltam.

The MIT Press, 2003. R$ 80,50 (impresso) e R$ 32,69 (digital) na Cultura.

What the Dormouse Said

Como levar a sério um livro sobre TI que cite Ken Kesey, descreva viagens de LSD e fale sobre a cultura hippie? A pergunta é outra: dá para levar a sério uma área que nasceu da contracultura dos anos 1960? Se os dois títulos anteriores mostram nossa história limpa e bonitinha, este livro de John Markoff mostra o lado B, piradão, viajandão e divertido.

Ou não parece divertida a ideia de buscar inovação através de viagens com LSD?

Três personagens puxam a história. Douglas Engelbart, pesquisador de Stanford que antecipou tantas invenções e tendências ao ponto de merecer, no mínimo, um lugar ao lado de Steve Jobs em nossa história. Myron Stolaroff foi o doidão que buscou inovações através do LSD. Resumo besta que desmerece suas contribuições. O terceiro herói é Fred Moore, filho de militar que se tornou o primeiro ativista da era do Flower Power. São histórias que dariam um filme e tanto. Personagens que ganham o devido reconhecimento neste trabalho brilhante de Markoff.

Penguin Books, 2005. R$ 51,30 (impresso) e R$ 23,59 (digital), na Cultura.

 

Notas

  1. Cada era tem os heróis que merece. Estou me tornando um saudosista incurável. Porque não vejo graça nenhuma nos bilionários-coxinhas de hoje em dia.
  2. Não ganho jabá da Cultura. Só coloquei os links para facilitar a sua vida.
  3. A imagem utilizada foi liberada pelo Chris no Flickr.