Hora da faxina. Tempo para abrir espaço para ideias e coisas novas. Durante o processo, que a gente aprenda a curar e filtrar mais e melhor. Porque o volume de lixo dedura o tempo perdido. E quem tem tempo a perder? Quem pode se dar esse luxo?

“Se uma revolução destrói um governo, mas os padrões sistemáticos de pensamento que produziram aquele governo permanecem intactos, então aqueles padrões se repetirão…
Há muita conversa sobre o sistema. E pouquíssima compreensão.”
Robert Pirsig, Zen and the Art of Motorcycle Maintenance

 

OS PADRÕES SISTEMÁTICOS ESTÃO AÍ, INTACTOS. Novamente discutimos nomes. Nenhuma ideia, nenhuma proposta. Mais uma vez o time de (des)governo será apresentado depois de terminado o campeonato-eleição, no jogo fisiológico que condena, logo na largada, qualquer plano ou programa. E pensar que talvez fosse bem fácil ganhar uma eleição apresentando um time de primeira na primeira hora. No mínimo, colocaria o debate em outro nível.

Quantos debates de baixo nível roubam nosso tempo? Dá medo até de fazer as contas. Dá saudades do tempo em que bastava a gente apagar qualquer estopim relacionado com “futebol, política ou religião”. Hoje parece haver polarização em tudo. Até no formato da terra?!?

Nossas redes sociais, por ricas que sejam, não estão vacinadas contra três pragas: cupins, chupins e cupinchas. O cupim está sempre destruindo ou desconstruindo algo ou alguém. Abre mão das asas para fazer cocô. O chupim também não cria nada – copia, suga e reclama quando não é de graça. O cupincha não aprendeu que “likes” e comentários que só repetem a mensagem original valem tanto quanto uma nota de três reais. São dados, mas não informam. Informação é a diferença que faz diferença¹. Fidbeque é informação que muda o comportamento do sistema². O resto é diversão ou distração – invariavelmente, desperdício. Mas antes o cupincha estéril do que um cupim babando de ódio.

“É muito fácil ser um expert numa área sem experts: basta levantar a mão.”
Eric Lander (biólogo, matemático e economista)

O requisito fundamental para falar sobre sistemas e complexidade é a humildade. Porque são áreas relativamente novas. Ainda não temos uma base teórica consolidada. Mas vai contar isso para os experts!

Uma estante de livros não é um sistema. A segunda lei da termodinâmica é meio falsa³. A combinação dos termos “estático” e “sistêmico” não é piada de mau gosto. O mundo ou a sua empresa tem dois tipos de pessoas: X e Y, petralhas e coxinhas, nós e eles. O expert em “antifragilidade” (sic) apoia o Trump!?! Fake news? Chame a coisa pelo nome: MENTIRA! Tem hora que não é questão de expertise. O velho bom senso não ficou obsoleto.

Uma conversa difícil, com um monte de termos obscuros e aquele sorriso do tipo “eu sei algo que você não sabe e não vou te contar” não são sintomas de expertise. São sinais de fraqueza. São muros de Trump, tão sólidos e reais quanto.

“… é a melhor era para estar vivo, quando quase tudo o que você pensa que sabe está errado.”
Tom Stoppard (dramaturgo inglês na peça Arcadia, 1993)

Por isso erguemos muros trumpianos: quando o que está após a vírgula da frase acima nos fala mais alto do que aquilo que veio antes dela. É medo. É humano.

O desafio que se coloca é gostar da nossa era. Não das desigualdades,  desequilíbrios e injustiças que a caracterizam. Mas gostar da luta contra tudo isso. Cientes de que há muito o que aprender. E, pelo visto, muito mais a desaprender… Descarrega!

Notas

  1. Gregory Bateson.
  2. Stafford Beer, se pudesse, escolheria outra palavra para descrever a retroalimentação de um sistema. Para ele, fidbeque (ou feedback) lembra vômito. E é erroneamente interpretada como uma resposta. (The Heart of the Enterprise, p. 59. Wiley, 1979).
  3. Albert Einstein disse que a segunda lei da termodinâmica deve ser a única que nunca será destronada. Sir Arthur Eddington escreveu que “se sua teoria vai contra a segunda lei da termodinâmica eu não posso te dar nenhuma esperança – seu destino é a pura humilhação”.
    Mas, caramba, isso é ciência. E se um caro colega descobriu uma forma de fazer só metade de cocô, alterando sua entropia pessoal enquanto mantém uma dieta diária de 2k calorias, sorte dele. Ou azar, vai saber. Eu não quero saber. É muito cocô para um artigo só. 
  4. Heavy weights!, a foto acima, foi liberada por Abhishek Sundaram no flickr.