Não é fácil ser Dono de Produtos. Mas não precisamos levantar restrições como aquelas colocadas pela Toyota para seus engenheiros-chefe. Doze anos de formação? Não precisamos de tanto. Dez mil horas de prática? Não faria o menor sentido.

Um PO justifica a oportunidade e o poder que recebe quando demonstra conhecimento, comprometimento, criatividade e todo o pacote de soft skills requerido de quem pretende interagir com um sem número de pessoas. Repare: com exceção do primeiro item, não é o tipo de coisa que validamos através de provas, certificados e afins. Exigir tempo de casa ou de experiência também não faria muito sentido. Quantos com tempo de casa não têm raízes profundas em estruturas e hábitos que precisamos evitar ou questionar? Até que ponto a intervenção de um não-especialista ou de gente de fora não seria desejável? E se ela trouxer aquela dose de criatividade que falta?

Talvez o melhor caminho seja a busca por voluntários. Dado o desafio, ainda que muito mal definido (e assim ele estará), perguntamos: quem se habilita? É provável que o candidato óbvio surja naturalmente. Assim como é possível que a pergunta gere dois tipos de problemas.

Pior cenário: ninguém se apresentou! Das duas, uma: 1) o desafio não é nada atraente; ou 2) as pessoas estão sufocadas, desmotivadas, desorientadas. Dependendo do caso e da gravidade, talvez nem seja a hora de lançar uma nova iniciativa. A menos que ela seja uma maneira de reverter a situação. A mensagem é: não finja que não viu fidbeque tão negativo.

Melhor cenário: várias pessoas toparam o desafio. O problema é bom porque você ganhou opções e sua decisão não precisa ser difícil. Sugestão: peça que cada voluntário apresente seu entendimento do desafio e a forma como pretende lidar com ele. Debata as sugestões com os principais envolvidos. Normalmente, o candidato ideal emerge desse processo. Vá com ela/e.

Pra pensar

  • Provas, certificações e afins são marcas de um tempo mecanicista e reducionista que a gente tentou deixar para trás através do Manifesto Ágil.
  • As fontes primárias, genuínas e sustentáveis de motivação e inspiração são os bons desafios. O resto é doping.
  • Não é fácil delimitar o stack de conhecimentos e habilidades que um PO deve dominar. Isso é bom. Um PO é antidisciplinar (ou indisciplinado) por definição.
  • Aproveite enquanto ninguém fecha um BoK (corpo de conhecimentos) full stack para POs.  E não fique espalhando esse tipo de ideia por aí, por favor!