No ano passado comemorou-se 30 anos do lançamento da primeira edição de “The Mythical Man-Month“, de Frederick P. Brooks Jr. O livro pode ser considerado o primeiro clássico das áreas de Engenharia de Software e Gerenciamento de Projetos. Fred Brooks trabalhou por 8 anos na IBM, entre 1956 e 1964. Seu último ano foi dedicado ao desenvolvimento do OS/360, um empreendimento que envolveu mais de 5 mil homens/ano. Surge então a provocação que o levaria ao livro, uma ‘pergunta básica’ de Thomas Watson (CEO da IBM na época):

“Por que programação é tão difícil de ser gerenciada?”

Três décadas de avanços tecnológicos e de consolidação das ciências Engenharia de Software e Gerenciamento de Projetos não foram suficientes para tornar o texto obsoleto. Muito pelo contrário: até hoje o livro é considerado uma referência obrigatória. Em 2004, quando questionado sobre a razão da longevidade de sua obra-prima Fred Brooks respondeu: “Eles falam que o livro é a Bíblia da Engenharia de Software… é por isso que todo mundo o lê mas ninguém o usa!”.

No ano em que comemorou seu trigésimo aniversário, “The Mythical Man-Month” ganhou um tipo de upgrade, de complemento. Trata-se de “The Art of Project Management“, de Scott Berkun. Não é só uma coincidência de temas, afinal existem milhares de títulos sobre Gestão de Projetos e Engenharia de Software. Mas vários outros aspectos aproximam as duas obras. Scott Berkun trabalhou por dez anos na Microsoft, em projetos como Windows, MSN e Internet Explorer. Ou seja, Berkun reviveu experiências parecidas com aquelas de Brooks em uma corporação de porte e relevância quase idênticas. Não é por acaso que os dois livros possuem linguagem e estrutura muito parecidos. São chamados “histórias de guerras”. Ambos são muito fáceis de ler e seguem uma ordem própria, em detrimento de padrões, nomenclaturas e sequências que caracterizam 9 em 10 títulos sobre gerenciamento de projetos lançados nos últimos tempos.

Esta série de artigos foi concebida originalmente para comemorar os 30 anos de “The Mythical Man-Month”. Compará-lo ao recém lançado “The Art of Project Management” é só uma maneira de tornar a homenagem e, por que não dizer, as provocações, um pouco mais ricas.

Estruturei a série em 5 grandes partes:

  1. Entre o Relógio e a Bola de Cristal
  2. Como Montar Times e Influenciar Projetos
  3. Castelos de Areia…
  4. … e a Inevitabilidade das Marés
  5. A Receita e o Bolo de Fubá

Semanalmente publicarei aqui um novo capítulo ou sub-capítulo. Ao término da série, com a compilação das (esperadas) contribuições externas, será disponibilizado um arquivo PDF com seu conteúdo integral.

Por incrível que pareça, nem “The Mythical Man-Month” nem “The Art of Project Management” mereceram uma edição em ‘português do Brasil’. Um lapso que ainda pode ser corrigido. E deveria. Como são best sellers, mesmo por aqui, razão comercial não há. Como Gestão de Projetos está na moda, resta-nos torcer para que, no meio daquele tanto de livro lançado para “ajudar a gente a passar na prova”, apareçam mais títulos como os de Brooks e Berkun.

Este artigo não deve ser visto, de forma alguma, como uma alternativa aos textos originais. Ele deve servir como um incentivo para a leitura de ambos. Ou releitura, por que não? A última edição de “The Mythical Man-Month” comemorou seus 20 anos em 95. Ele traz uma série de artigos e capítulos complementares. Mas o texto original, como era de se esperar, foi mantido.

Minha motivação parece ser a mesma de Berkun, resumida nessa provação de Douglas Adams:

“Seres humanos, que são quase únicos em sua capacidade de aprender com as experiências dos outros, também se caracterizam por sua resistência em fazê-lo.”