Prólogo

Como prometido no Graffiti, vou transcrever aqui o artigo que enviei para avaliação do comitê que está organizando o VI Seminário Internacional do PMI-SP. Mas, para respeitar o ‘padrão editorial’ do finito, vou reescrevê-lo. Artigos muito formais não combinam com o espírito deste espaço. Outra alteração: vou publicá-lo em partes, uma por semana. Vou me aprofundar um pouco mais em cada ponto do trabalho, o que não foi possível dado o (curioso) limite de 8 páginas imposto pelos organizadores daquele evento. Aliás, pode ser que meu trabalho seja recusado. Nunca se sabe. De qualquer forma, uma palestra e um workshop sobre o tema já estão prontos. Quem quiser saber mais detalhes pode me contactar por email.

O artigo está estruturado em 8 capítulos:

  1. Introdução
  2. O Trabalho Criativo
  3. A Organização
  4. A Equipe Criativa
  5. Liderando a Equipe Criativa
  6. Criatividade em Projetos
  7. O Processo de Criação
  8. O Processo de Gerenciamento

Espero dar dicas e fazer provocações que sejam úteis na execução e, principalmente, no gerenciamento do Trabalho Criativo. Desnecessário dizer que o seu feedback, na forma de críticas e sugestões, pode tornar este trabalho ainda mais interessante.


Introdução

A Inovação é mais filha do trabalho do que do lampejo de um gênio.
Peter Drucker

As palavras inovação e criatividade estão cada vez mais presentes nas agendas de empresas e países. Em um mundo de hiper-competitividade e quase isento de fronteiras, a capacidade de criar e inovar é o que pode determinar o sucesso ou o fracasso de um empreendimento. Mas o que torna uma organização criativa?

Entendemos hoje que raramente a criação de um produto ou serviço é fruto de uma única mente genial. Ao contrário, boa parte dos casos de sucesso documentada mostra que a inovação nasce de um trabalho de equipe. Segundo Peter Drucker, inovação é “uma disciplina sistemática, organizada e rigorosa”. No entanto, apesar do apelo e da ampla difusão do tema, ainda carecemos de referências básicas que nos auxiliam na execução e no gerenciamento do trabalho criativo.

Por exemplo, o bom gerenciamento de projetos aparece em algumas pesquisas como a segunda característica de um ambiente que promove a criatividade . Mas o termo criatividade só é citado três vezes no PMBoK , como: i) uma habilidade desejável da equipe de gerenciamento; ii) um possível resultado de conflitos bem gerenciados; e, iii) esperado fruto da técnica brainstorming. Um detalhe ainda mais surpreendente: a palavra Inovação não aparece em nenhum momento no texto!

A ênfase em uma filosofia de ‘comando e controle’, em detrimento do foco em inovação e aprendizado, não é uma exclusividade do PMBoK e de todos os seus derivados que norteiam a formação de gerentes de projetos. Ela caracteriza a cultura de um grande número de empresas. Seria uma conseqüência natural de um século de aplicação dos pensamentos fordista e taylorista. Para Domenico de Masi, trata-se de um cultural gap, um fenômeno que “constrangeu os atuais knowledge workers, os trabalhadores do conhecimento, a se organizarem segundo os velhos princípios industriais” . Acontece que o excesso de ‘comando e controle’, comumente traduzido na forma de procedimentos e regras, inibe e até mesmo obstrui o trabalho criativo. Liberdade é a principal característica de uma organização criativa .

O que não significa que o trabalho criativo não possa ser gerenciado. Muito pelo contrário. Criatividade não é só a idéia. É também a capacidade de realizá-la. Uma “síntese de fantasia e concretude” . O que nos leva à questão: como conciliar liberdade com uma capacidade de realização que atenda e respeite os propósitos e restrições de uma organização? Afinal, como gerenciar o trabalho criativo?

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Semana que vem a gente começa a responder.
Próximo capítulo: “O Trabalho Criativo“.

Referências:

  1. DRUCKER, Peter F.
    A Administração na Próxima Sociedade. Nobel/Exame – 2002.
  2. AMABILE, Teresa.
    The Social Psychology of Creativity. Springer-Verlag – 1983.
  3. Project Management Institute (PMI)
    A Guide to the Project Management Body of Knowledge – 3ª edição.
    PMI Publications – 2004.
  4. DE MASI, Domenico.
    Criatividade e Grupos Criativos. Editora Sextante – 2002.