No meio da enésima revisão do material para as oficinas da próxima semana* descobri que naquela pequena série sobre a EPBE (Eriksson-Penker Business Extensions – uma extensão da UML para modelagem de negócios) eu ignorei um de seus elementos mais “vendedores”: o seu meta-modelo. Como eu também não cumpri a promessa de compará-la a outras alternativas (não conclui o estudo… ainda), vale a pena mostrar e descrever o “modelão”.

E forçar a comparação. Não tanto com a BPMN que, como o próprio nome indica, serve apenas para a modelagem de Processos de negócio. Mas, principalmente, com aquela míope visão de modelagem de negócios proposta no RUP*. Direto ao modelo:

Meta-modelo básico dos conceitos  Meta-modelo básico dos conceitos da modelagem de negócios

Serei redundante, mas acho legal fazer uma leitura do modelo. Uma porque meus rabiscos nem sempre são legíveis. Mas também porque nem todos que aqui pousam conseguirão entender o diagrama (de classes – UML, é claro).

Um objetivo de negócio é alcançado através de um ou mais processos de negócio. Objetivos expressam o estado desejado de um determinado recurso. Por exemplo: Lucro é um recurso (uma coisa abstrata!). Lucro é o estado desejado de um recurso que, por questões de simplificação, chamaremos de Caixa (uma conta contábil – um recurso abstrato). Aumentar o lucro em 10% é um objetivo de negócio. Alguns objetivos também podem ser expressos na forma de regras de negócio.

Uma regra de negócio governa ou controla um ou mais processos de negócio. Por exemplo: o desconto de 5% só pode ser concedido em transações de valor igual ou superior a R$100. A regra em questão delimita o processo de vendas. Mas as regras de negócio também podem ser aplicadas a recursos: não será emitida a conta mensal se o valor total da fatura for menor que R$ 10; sendo assim, o valor deve ser acumulado para o mês seguinte. Neste exemplo a fatura é um recurso abstrato.

Os recursos são criados, refinados, consumidos, modificados ou simplesmente utilizados pelos processos de negócio. Exemplificando: o processo de vendas é realizado por vendedores (recurso abstrato); gera uma nota fiscal (recurso abstrato); aumenta o caixa da empresa (idem) e reduz o estoque (recurso abstrato) de determinados produtos (recursos físicos). Um processo causa uma mudança de estado que afeta determinado recurso. A redução do estoque, por exemplo, é uma mudança de estado.

Processos de negócio também geram eventos, e são afetados por estes. Seguindo no exemplo anterior, aquela redução de estoque gerou um evento que é disparado quando um produto está prestes a atingir a quantidade mínima aceita. Este evento afeta outro processo de negócio, o processo de reposição de estoque (ou compras).

Esta descrição espicha um pouco aquela definição publicada anteriormente em “EPBE: Introdução“: Os objetivos do negócio são atingidos através da execução de processos que usam, transformam e geram recursos, sempre respeitando e seguindo um conjunto de regras.

Insisto: a EPBE consegue ser simples e robusta, completa, ao mesmo tempo.

Observação importante: o diagrama acima é apenas um meta-modelo básico. Surrupiado da página 65 de “Business Modeling with UML“, de Hans-Erik Eriksson e Magnus Penker, sofreu ainda algumas ‘reduções’. E um complemento mal definido: aquela “meta” não existe na proposta original. Vincularei ali metas e indicadores levantados, por exemplo, em Balanced Scorecards e Mapas Estratégicos. Não utilizei uma variação dos próprios objetivos (possível – vide o auto-relacionamento) para destacar um tipo diferente de requisito de negócio. Mas isso é papo para outro artigo. Fico devendo também um que trate exclusivamente das regras de negócio. Papo bom.

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* EPBE é uma linguagem, uma ferramenta. Seu uso não exige a adoção deste ou daquele processo. Ou seja, se você utiliza o RUP (ou qualquer variação dele, inclusive o OpenUP), pode enriquecer muito os seus projetos com a adoção da EPBE. Uma breve justificativa: aquela visão proposta no RUP, que fala de casos de uso de negócio (BUC’s) e derivados, é míope porque trata o negócio como uma “caixa preta” (assim como os casos de uso de sistema tratam este como uma “caixa preta”). O problema deste enfoque é que olhamos exclusivamente a interação do negócio com o ambiente, com os atores. Uma completa análise e modelagem de negócios só ocorre quando “olhamos” dentro do negócio também, e não só as suas interações. Normalmente as interações são só a ponta do iceberg.A EPBE é apresentada de forma mais detalhada na oficina “Análise e Modelagem de Negócios“. Duas turmas acontecem na próxima semana: