Quinze meses mergulhado em um mesmo assunto, mesmo que ele seja amplo e saboroso, cansa. Aproveitei o feriado e meu 3º aniversário para “oxigenar” o cérebro. Trouxe de Sampa, na semana passada, a última edição da MundoPM. Não curto muito a (cara) revista, mas uma chamada de capa me pegou: “Gestão do Conhecimento Interprojetos: como evitar custos imensos de reinvenção e oportunidade a cada projeto“. Caramba… há 4 anos eu não via nada sobre o tema. Este foi o assunto do primeiro trabalho que publiquei aqui no finito, resultado de um estudo que fiz entre 2003 e 2004 (compilado neste PDF de 240kb e 21 páginas – versão revista hoje!).

O artigo publicado na MundoPM é de Naomi Brookes, diretora do centro de práticas de gerenciamento de projetos da Aston University (UK), e Michel Leseure, professor de gerenciamento de operações na Escola Comercial de Negócios de Plymouth. Desnecessário dizer, são de um universo totalmente diferente do meu. Mas, caramba, como dois trabalhos sobre um mesmíssimo (e específico) assunto podem ser tão diferentes? Até na bibliografia não há uma única referência em comum! O único texto que conheço na lista deles é “The Knowledge Creating Company”, clássico de Takeuchi e Nonaka que não cito em minhas referências.

O trabalho da dupla compila os resultados de uma pesquisa que fizeram com 14 empresas européias, dos mais diversos ramos. Sua conclusão não difere muito da minha:

Os estudos de caso mostraram deficiência nos processos formais de gestão do conhecimento explícito para transferir conhecimentos de um projeto para outro.

Isto ilustra uma falta de consciência sobre o conceito de gestão do conhecimento nas empresas deste nível.

Mas uma palavrinha da citação acima resume toda a diferença entre o trabalho deles e o meu: “explícito” (conhecimento). Para eles, “conhecimento tácito é difícil de transferir”. E concentram boa parte de seu trabalho na indicação de mecanismos que promoveriam ou facilitariam o aprendizado interprojetos, dentre eles intranets, bancos de dados e bancos de dados de intranets… (não brinquei – está na figura 2 daquele artigo).

Todo o meu trabalho gira em torno de eventos de socialização, ou seja, na troca de conhecimentos tácitos. Sugiro o uso de dois mecanismos, as “Comunidades de Prática” e as “Histórias de Aprendizado”. Não acredito que intranets e bases de dados promovam aprendizado de verdade. Mas entendo que eles têm sua utilidade em uma empresa que leve a sério o papo sobre gestão do conhecimento. Se bem construídos, são excelentes “guias de referência rápida”.

Assim como o artigo de Naomi e Michel, que guardarei com carinho. Não só pela sua qualidade, mas também porque me permitiu ressuscitar um assunto há muito ignorado por aqui.