Pôxa, duas prestações de conta consecutivas… Sinal de muita estrada e pouco tempo para gerar conteúdo novo. Peço desculpas prometendo uma sequência de artigos inéditos. Mas este rendiconti tem um atrativo especial, que atende pelo nome de “R/Open”.

Antes, porém, a viagem. É minha segunda ida a Bauru, mais especificamente para a UNESP. A primeira foi em novembro do ano passado. Um passeio maluco que resultou em quase 24 horas dentro de ônibus, de Vga para Bauru via Campinas. A experiência foi legal mas excessivamente cansativa. Desta vez eu encararia um vôo de ATR, CGH – Bauru/Arealva sem escalas. Diz o povo, mineiro não perde o trem (ônibus ou avião). Daí que o mineiro aqui só descobriu em cima de hora que perderia o vôo se não fosse para Sampa na madrugada de domingo. Imprevisto que resultou em horas e horas perambulando feito um zumbi em dois terminais, Tietê e Congonhas. Zumbi? Pois é: desde a última quinta convivo com a 2ª gripe do ano: gripe “Carlinhos Bala”. Não sei se ela pega só corinthianos, mas é devastadora! E não deixa dormir. Azar dos corinthianos que compartilharam ônibus e aviões comigo…

Quando comecei a palestra, na noite de segunda, completava 37 horas sem dormir. Alertei a turma para um risco inédito: o palestrante poderia dormir! Azar deles, não aconteceu. E até que rolou sem grandes acidentes a primeira de duas palestras. Rolou até sorteio de uma caixa de quindins, o que ajuda a “prender” uma platéia. Invertendo a ordem natural de meus eventos, começamos com Engenharia de Requisitos. A mesma turma veria, no dia seguinte, uma palestra sobre Modelagem de Negócios. E um improviso que fecharia com chave de ouro a minha participação naquele evento que é totalmente organizado e tocado pela estudantada, a exemplo da Semana Acadêmica da UFLA.

Antes da surpresa, porém, vou falar sobre a viagem de volta. Ainda zumbi (tipo aqueles coadjuvantes dos filmes do Corman sobre o tema), me enganei sobre o horário do vôo. Quando cheguei no distante aeroporto de Arealva, certo de mais de uma hora de espera, fui recepcionado por três assustados funcionários: “o senhor vai embarcar?”. Como assim? Meu vôo é o próximo. Quase gelei quando falaram que não tinha próximo… Deve ter gelado mais aquele prestativo atendente que invadiu a pista correndo e pedindo para o piloto esperar: “Tem mais um!”. Foi surreal, mas atrasaram a decolagem e abriram a porta do avião para o zumbi aqui poder embarcar. Agora só falta dizer que eu sou culpado pelo caos aéreo. Bom, para terminar a saga, corri feito louco de Congonhas para o Tietê (Portuguesa) e consegui pegar o último buzão. Lá pelas 2h30 da matina, no meio d’uma neblina igualmente “Corman” e d’um frio daqueles, desembarquei em Vga. Eu e outros 3 zumbis.

Vou repetir o que escrevi depois da primeira ida para Bauru: queria descobrir uma forma de ‘importar’ aquele espírito empreendedor aqui para minha terrinha. Como na semana anterior estive com a estudantada de Lavras, as diferenças ficaram ainda mais nítidas. Não é demérito da turma de Lavras, não é isso. Mas é muito visível a diferença. Todos os participantes do evento de Bauru, do 3º e 4º anos, já trabalham. Na área! E muitos ainda têm fôlego para buscar projetos “por fora”, inclusive iniciativas de software livre. São mais dinâmicos e, de certa forma, mais “famintos” por novos conhecimentos e experiências. Precisa dizer que tal espírito se reflete na universidade e até na cidade? O interior de SP não é mais desenvolvido que o interior das Geraes por acaso, sorte ou força política. Triste (para os mineiros), mas este é outro assunto. Voltemos ao nosso.

R/Open - ProcessosAquele improviso que rolou no evento de ontem é fruto de uma longa história. História de quase 1 ano. Um dos pontos principais de meu trabalho para a Formação de Analistas de Negócios é uma sugestão para a Estruturação de Requisitos. Dois participantes das primeiras edições do FAN, Jean Streleski de Bauru e Reinaldo Castro de São Carlos, gostaram da idéia e começaram a desenvolvê-la. Ontem fomos apresentados, platéia e eu, ao R/Open, uma versão “alpha” de uma aplicação que pega, remixa e estende minhas sugestões. Jean e Hailton, o desenvolvedor que transformou nossos requisitos na bonita ferramenta que aparece aí do lado, fizeram a apresentação. O R/Open (ou RequisiteOpen, nomes ‘temporários’?), foi todo desenvolvido com a dupla dinâmica PHP+MySQL. Usa Ajax e foi arquitetato, de nascença, para atender um nobre requisito: ter seu código aberto. Ou seja, a solução tem uma arquitetura robusta, que soube lidar muito bem com eventuais limitações do PHP. Nas palavras do Hailton, “é bem OO (Orientada a Objetos)”.

A ferramenta respeita integralmente aquele meu rabisco. Ou seja, parte dos Objetivos e Processos de Negócio. E organiza o escopo como um conjunto de casos de uso. E, antenadíssima, sugere a adoção de um processo de desenvolvimento que seja iterativo e incremental. Para tal Jean se baseou no OpenUP para traçar o método de desenvolvimento. Me arrisco a dizer que nenhuma outra ferramenta para desenvolvimento e gerenciamento de requisitos tem um enfoque tão rico, natural e prático. Não sei se a platéia notou, mas fiquei boquiaberto com aquilo que eles chamaram de “versão alpha”.

R/Open - EscopoClaro, ainda há muito por fazer. Jean e outros voluntários de Bauru devem aproveitar as férias de julho para fechar uma versão “beta”, a primeira que deve ser disponibilizada para o público. Espero apoiá-los nesta etapa, inclusive na documentação da aplicação. Mas vou elaborar também uma sugestão de ‘roadmap’, uma coletânea de provocações: a primeira forçará um reencontro com a turma de São Carlos: será que conseguimos acoplar uma ferramenta CASE desenvolvida lá ao R/Open? Outra: vale a pena aproximar o R/Open do Eclipse? Caramba, são tantas possibilidades que só espero não ‘bagunçar o meio de campo’. Estamos todos cientes de que, tão logo seja publicada como software livre, a ferramenta ganhará vida própria. Que seja longa e resulte em produtividade e qualidade para todos os seus usuários.

Momento TKS!: Jean, Léo, Rafael, Hailton e toda aquela cambada que organizou e participou dos eventos merecem os parabéns. A UNESP e todos os seus professores (BSI e BCC) merecem os parabéns por abrir espaço e motivar uma turma tão especial.

Para encerrar, repetirei uma provocação que fiz para todos que vivem atolados em intermináveis congestionamentos: prestem atenção na riqueza que brota longe das capitais. Valorizem quem está gerando talento de verdade. Mas, por favor, valorizar não é plantar “fábricas de software caça-níqueis” em locais onde o salário é mais baixo, ok? Pensem grande. Da mesma forma como a estudantada da UNESP pensa. Inté!