A pesquisa que disparei 15 dias atrás só permite concluir uma coisa: nosso povo não gosta muito desse tipo de coisa. Coloquei uma meta muito modesta: 150 participantes. Consegui apenas 131. Entendo que é uma amostra muito pequena, que não permite conclusões. Mas dá boas pistas. E possibilita a elaboração de alguns palpites.
O pessoal que define “o que precisa ser feito”, os analistas de negócios, empatou com a turma do “como será feito”, os analistas de sistemas. 22% de participação de cada um. Em segundo lugar vieram os coordenadores de projetos, com 15% das respostas. Desenvolvedores e analistas de processos aparecem com 10% e 9%, respectivamente. De curioso aqui nosso coringa, que disse ser analista de negócios, de sistemas, de requisitos, desenvolvedor e arquiteto! Será que o salário é compatível com tantas responsabilidades?
Um participante cobrou, não perguntei sobre rendimentos. Falha minha. Não sei se por sorte ou azar, no mesmo período, a revista Você SA da Abril liberou uma pesquisa sobre o assunto. Cobre mais de 130 profissões, sendo 14 específicas da área de TI. Vou destacar aqui apenas um ponto: analistas de sistemas ou analistas-programadores (chamados naquela publicação de analistas de desenvolvimento) ganham praticamente a mesma coisa que analistas de negócios. Até os 5 anos de experiência. Depois disso, mostra a pesquisa, os analistas de negócios apresentam salários consideravelmente maiores. A diferença chegaria a R$ 5 mil entre profissionais com mais de 15 anos de experiência. Nesta faixa de tempo de estrada, o salário de analistas de negócios em pequenas e médias empresas seria maior até do que dos gerentes de projetos. Estranhei muito o número, mas não tenho como questioná-lo. A empresa que executou a pesquisa, a Robert Half, fez mais de 30 mil entrevistas. É uma pena que tenha se limitado aos mercados de São Paulo e Rio de Janeiro.
São Paulo de fato concentra a grande maioria das vagas. Em minha pesquisa, 58% dos participantes são de lá. Rio, Santa Catarina e Minas aparecerem na sequência, com quase 10% cada um. Profissionais do sexo masculino também confirmam outro tipo de concentração: são 81%, contra 19% de mulheres. 70% dos participantes têm idade entre 23 e 34 anos. Com mais de 40 tivemos 11%. Curiosidades: 44% disseram se apresentar como “Sêniores”, contra 39% que são “plenos (ocasionalmente vendidos como sêniores)”; 5% estão “loucos(as) para mudar de profissão”.
Mais da metade dos participantes, 57%, trabalha em empresas de TI. 30% em serviços de desenvolvimento e manutenção de sistemas. A maioria, 28%, conta com mais de 100 profissionais na área de TI. Mas, que espanto, 48% de todas as empresas contam apenas com algo entre 1 e 5 profissionais trabalhando com análise de negócios. Na questão eu ainda tive a preocupação de especificar que seria qualquer profissional que executasse: modelagem de negócios, modelagem de processos, desenvolvimento de requisitos etc. O desequilíbrio parece ser muito grande.
Sobre Projetos
Repetiu-se neste levantamento um número que tem cara de “default”: 62% dos projetos têm algum tipo de problema. 21% seriam “muito mal sucedidos (muito atrasados e gerando prejuízos)”. Para dizer a verdade, o número até que é um pouquinho melhor do que aqueles que vemos em outros lugares. Mas ainda é muito comprometedor.
Nada de novo também no front dos principais problemas: mudanças de requisitos (18%), requisitos mal definidos (17%) e mudanças de regras de negócios (13%) são os principais. Pouco envolvimento de clientes e usuários, metodologia mal aplicada e equipe mal preparada respondem por 9% cada um.
61% das empresas estão cientes dos problemas e tomando providências. As principais seriam: treinamento da equipe (31%), implantação de novas tecnologias e ferramentas (23%), implantação de nova metodologia (21%).
E quais metodologias, processos ou padrões são utilizados? Algumas surpresas: PMBoK (23%), Scrum (18%), RUP (16%), CMMI (10%) e XisPê (8%) são os destaques. Fiquei com pulgas atrás do orelhão: com tanto Scrum, como ninguém se apresentou como ScrumMaster ou Product Owner? O número do RUP também surpreendeu.
O que não surpreende é que 71% ainda utilizem editores de texto para tarefas de descoberta, descrição e gerenciamento de requisitos. E 61% depositem suas esperanças em planilhas eletrônicas. A relação não fica explícita, mas tenho certeza que essas ferramentas colaboram diretamente com os problemas listados acima.
Mas 68% utilizam especificações de casos de uso. Parece um bom sinal. Mas o número não bate com os levantamentos informais que faço em meus eventos. Será que estão falando de casos de uso de verdade, ou daquelas extensas descrições de telas e de como a solução deve ser construída? Infelizmente seguirei sem resposta. Mas desconfiado de que estamos falando de casos diferentes.
Perguntei se praticavam a modelagem de negócios. 38% disseram que sim, “e percebem o valor dela”. 35% disseram que praticam, mas “só um pouquinho”. 73% praticam a modelagem de negócios?!? Outro número que não bate de forma alguma com o que vejo nos eventos e empresas. Ainda mais com 59% dizendo utilizar a UML para tal. Para se ter uma ideia, são 23% aqueles que utilizam a BPMN. Pouco mais que os 20% que já estariam utilizando o método do “Pensamento Visual”.
Uai cara pálida: você faz uma pesquisa para depois questionar os números obtidos? Entendam, por favor: a culpa é da pesquisa e do número de respostas. Minha críticas acima servem apenas para destacar pontos da pesquisa que parecem estar bastante distorcidos. E uma das causas das distorções é óbvia e também foi levantada: 55% de quem participou da pesquisa já participou de algum evento FAN.
Mas, de qualquer maneira, pistas e palpites podem ser observados e colocados. Resta esperar que futuras iniciativas como esta sejam melhor elaboradas e mereçam um número bem maior de participantes. Aos que aceitaram meu convite e doaram preciosos minutos, registro aqui meu muito obrigado. E boa sorte no sorteio!
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A foto utilizada acima, “Torcedor Solitário“, foi devidamente surrupiada do Rodrigo Moraes.