Finalmente encerro a série de artigos onde tentei transcrever a palestra “O Futuro Não é Mais como Era Antigamente“. Este trabalho foi desenvolvido para o Seminário Engenharia de Software promovido pela Tempo Real Eventos. Para minha surpresa ele foi encomendado por algumas empresas, o que resultará em sua promoção para o status de Produto. Não do finito, mas de seu co-irmão que está brotando das cinzas com renovados propósitos. Assunto para outra hora.
Hoje quero falar sobre o terceiro e último módulo daquela palestra, sobre o nosso “Museu de Grandes Novidades”. O primeiro módulo falava de pessoas e times e foi registrado aqui nos artigos “O Clube da Esquina Globalizada” e “O Cubículo Global“. O segundo tratou de tecnologias e arquitetura corporativa, tema que mereceu duas entradas: “(Pensando Alto sobre) Arquitetura Corporativa” e “Arquitetura do Negócio“. O prato quente é servido no final e o tal “Museu” foi a figura selecionada para puxar assunto sobre processos (metodologias) e projetos. Sim, eu esperava reações ruins entre as boas e indiferentes: “No size fits all!” Aliás, quem abre o tema com o slide abaixo não pode esperar coisa muito diferente, né?
O “outras relíquias” do título indica a existência de um slide anterior. Verdadeira jóia: a certidão de nascimento do modelo ‘Cascata’. Mas, peraí: queria eu requentar debate tão chato e batido? Não era a intenção. E tento aplacar ânimos dizendo se tratar de um ‘Museu’, não de uma lixeira. Guardamos em um museu coisas que merecem ser vistas, lembradas e estudadas. Mostramos em um museu peças que têm valor. Preciso reforçar a questão que repeti várias vezes na palestra e que rotulei como ‘retórica’ (só pra tentar provar o contrário): nossas teorias (sobre engenharia de software) resistem ao confronto com as pessoas e tecnologias de hoje? Quantas ou quais sobreviveriam de fato? Minha cara e meu caro, se eu tivesse a resposta não estaria aqui, gastando o seu e o meu tempo.
Também não se trata da elucubração isolada de um mineiro de Varginha que desfila lorotas nas horas vagas. O SEMAT (Software Engineering Method and Theory), que tem entre seus signatários algumas das pessoas que mais contribuíram com a área em todos os tempos, afirma com todas as letras em sua “chamada para a ação” que aquilo que conhecemos (conhecemos?) sobre engenharia de software encontra-se num perigoso e escuro mato sem cachorro porque:
- Está repleta de modas e tendências, coisa que não combina com *engenharia*;
- Está carente de uma base teórica forte e amplamente aceita;
- Está abarrotada de métodos e variações com diferenças pouco compreendidas e artificialmente aumentadas;
- Está pobre-pobre-pobre-de-marré-marré-marré em termos de avaliações e validações. Cada um fala que seu “método” funciona e pronto; e
- Há uma divisão entre práticas da indústria e pesquisas da academia.
Não consigo pensar em nenhuma outra área do conhecimento humano que tenha passado por algo semelhante. Repare bem: um grupo de pessoas que escreveu os livros e nos ensinou engenharia de software nos últimos 40 anos concordou com um diagnóstico nada favorável do nosso estágio atual. Repare também que entre os signatários existem representantes de todas as “escolas” relevantes, da extrema-direita até a extrema-esquerda. Hã.. ok. Alguns caras da extrema-esquerda que inicialmente concordaram com o diagnóstico tiraram o time de campo quando viram que o papo centro-direitista não os agradaria nem um pouco. Não importa. E também não creio que o SEMAT, pelo andar da carruagem, gere algum resultado. Mas o estrago está ou deveria estar feito. Ou alguém não concorda com o diagnóstico apresentado?
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Definitivamente, minha intenção não é promover o bilionésimo papo besta sobre “cascateiros X agilistas”. Acontece que, tanto no evento aberto quanto em um fechado, teve gente que se sentiu pessoalmente atacada pelo conteúdo e, desconfio, pelo tom utilizado.
Uma pessoa que participou da edição fechada desta palestra no último dia 9/11 manifestou enorme descontentamento com o evento. Detalhe: ela registrou sua insatisfação na forma de um comentário no último artigo publicado. Outros detalhes: utilizando nome falso, insinuando uma insatisfação geral e, indevidamente, registrando um link para o site da empresa contratante. Empresa que solicitou a remoção do comentário ou, no mínimo, do link que a identificava. Nunca cogitei a censura ao comentário (blog que é blog não modera nem censura). Mas, claro, retirei a referência para a empresa. Pela atenção, pelo time e pela rapidez na resposta, a empresa não merecia ver seu nome associado a comportamento tão feio e desonesto.
Já fui atacado de quase tudo quanto é jeito pelas ideias que defendo e pelo que critico. Na grande maioria das vezes o ataque ou resposta, mesmo os mais agressivos, não é covarde. Não é anônimo. É o mínimo que se espera, certo?
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Já escrevi por aqui que esta palestra é uma coletânea de temas que, por vários motivos, repousavam em minha gaveta. Pra ser sincero, não acreditava na viabilidade dos temas (em termos econômicos e políticos, hehe). Estouro champanhe quando erro assim. Além da apresentação para quase 100 profissionais de uma mesma empresa, ontem tive a chance de levar o mesmo papo para um território que parecia ser, no mínimo, inusitado. Ganhei um belíssimo presente da Profa. Renate Landshoff: a oportunidade de apresentar “O Futuro não é mais…” para duas turmas do curso de graduação em Biblioteconomia da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo). Além da bela e antenada turma, contei com a enriquecedora presença de Sérgio Storch. Não vou tentar explicar agora o exótico mashup que se desenha. Mas algumas pistas você encontrará neste artigo da Profa. Renate (e respectivos comentários).
“Beans“, a foto utilizada neste artigo, é de autoria de Naomi Ibuki e foi obtida no Flickr.