Este será um post diferente¹.

Há algumas semanas participei de uma pequena reunião com especialistas de diversas áreas. Mistura de comunidade de prática com think tank – sem frescuras, pura troca de experiências e dicas. Distribuí meu risque & rabisque e, de bate pronto, recebi a pergunta: por que a questão “o que precisa ser feito?” mereceu tanto destaque? Contei rapidamente a história: Drucker disse, lá no final do século passado, que era a pergunta mais importante que um executivo poderia fazer. Meu interlocutor completou: “Pode ter sido. Hoje, a questão mais importante e difícil é: por que precisa ser feito?

Não preciso ir muito longe para descobrir inúmeras evidências que provam que meu colega está certo. A amiga Thais, trabalhando na administração pública, não sabe o que fazer para priorizar as demandas de dezenas de secretarias. Um cliente, que é uma SA, também não sabe o que fazer com seu backlog volumoso, amorfo e desordenado. Buscamos pistas no topo do topo da pirâmide – o que estariam dizendo o plano diretor daquela cidade ou a área de relação com investidores daquela empresa? – e seguimos perdidos. Para onde quer que eu olhe é quase sempre o mesmo: tudo é prioritário. Sendo assim, nada é prioritário.

Não é de hoje que a questão me incomoda. No ano passado escrevi alguns artigos sobre estratégia e priorização {1, 2}. Sugestões inúteis se não temos as diretrizes iniciais. Cada vez mais parece que o buraco “está mais em cima”!?!

Caramba, se o Capitão não sabe dizer para onde dirige seu barco, quem saberá? E o que dizer dos efeitos imediatos de tamanha falta de sentido? Primeiro, tem um monte de gente correndo adoidado para entregar ou se livrar de tudo o que aparece pela frente. Segundo, esse monte de gente trabalha no automático, sem objetivos. Como saber se um trabalho é bem feito se não conhecemos sua razão? Como acordar de manhã e ir trabalhar se não entendemos a motivação?

O que a turma lá de cima tanto faz que esqueceu de sua principal atribuição? Será que estão todos presos nos mesmos problemas cotidianos? Se toda a pirâmide de uma organização está concentrada no presente, detonando a única justificativa plausível para uma estrutura hierárquica, quem sobrou para projetar o amanhã e o depois de amanhã?

Enfim, encerrando a irritante sequência de interrogações, o que poderia ter criado esse mundo repleto de barcos sem mapas nem bússolas?

Observações:

  1. Sei lá quando criei a restrição (mania) de publicar apenas artigos longos e (teoricamente) mais elaborados. O fato é que, com a agenda meio insana que assumi, corria o risco de deixar o {finito} às moscas por um longo período. Por isso vou tentar ser menos chato e publicar posts como este, mais curtos. É uma forma de dar sinal de vida, certo?
  2. Experts at Sea“, cartoon que ilustra este post, é um trabalho do HikingArtist.com disponibilizado via Flickr.