
Estão chegando os arquitetos (de negócios). E a tendência (nova moda?) estava tão fácil de ser percebida que não me perdoo. Fiquei uma hora batendo minha cabeça no teclado e berrando, entre gritos de dor, “beócio! É a arquitetura (de negócios), beócio!”. Brincadeirinha. E nem posso me condenar tanto assim. Afinal, em outubro do ano passado eu já estava falando sobre Arquitetura do Negócio. O assunto estava tão gelado na época que mereceu dois comentários, além de minhas respostas. Agora, oito meses depois, acho que ele sai do frio para o morno rapidinho. Justifico minha suspeita neste artigo.
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Anteontem, dia 14/junho, o InfoWorld publicou uma lista com as seis “mais quentes” novas profissões em TI¹. Hottest job nº 1? Arquiteto de Negócios. Peço desculpas antecipadas pelo veneno que escorrerá na sequência, mas o InfoWorld não ajudou: o trabalho mais quente em TI não é de TI?!? Está lá no texto: “o arquiteto do negócio é um membro da organização do negócio e reporta-se ao CEO”. E o que ele faz? “fashionaliza (ai!) a estratégia de alto nível da empresa com a tecnologia em mente”. Perdão, mas nem o Google Translate conseguiu trazer “fashioning” para o português. E como temos vários adoradores de termos chiques e da moda aportuguesados nas coxas, porque não fashionalizar? O problema é o Tite começar a se preocupar com a fashionabilidade de seu time. Chega! Meu corretor ortográfico não suporta mais neologismos bestas.
O advento da Computação na Nuvem (leia-se, aplicativos muito sexy e algumas vezes úteis que estão a um clique de distância) deixa gerentes de negócios com água na boca e coceira nos dedos. Por que esperar meses ou anos por um projeto da área de TI se posso contratar um serviço na Internet em questão de minutos? Segundo o artigo da InfoWorld, “o trabalho do arquiteto de negócios é armar os gerentes com o conhecimento que eles vão precisar para fazer boas escolhas “. Seria, em outras palavras, “adeus CIO, tchau departamento de TI, bye bye, so long, farewell…”? O texto não responde. Aliás, ele nem faz a pergunta. Afinal, onde entram CIO e sua área neste negócio? (Perdão pelo trocadilho).
Quem tem ou começa a ter cabelos brancos, como este que vos escreve, já viu este filme antes. Em preto e branco, digo, em fósforo verde. Tem início lá na segunda metade dos anos 1980, quando a microinformática começou a invadir as empresas. Foi assim que nasceu o que hoje conhecemos como “planilhódromo”, outro neologismo besta que resume aquela incomensurável quantidade de planilhas eletrônicas que tapa buracos dos softwares empresariais. Aquele foi o primeiro grito de independência de nossos queridos usuários insatisfeitos com nossa agilidade em atender suas demandas. Pelo visto, a Nuvem e suas suculentas e fáceis ofertas dão argumentos para o segundo grito. Seria esta a justificativa para a “invenção” de um arquiteto de negócios? Segundo a InfoWorld, sim. Se for, salve-se quem puder. E para o mundo porque eu vou descer agora.
Eu acho, e apenas acho, que eles acertaram o remédio mesmo com um diagnóstico muito equivocado da doença. Como escrevi naquele velho artigo, temos duas grandes motivações para desenhar e cuidar da arquitetura de um negócio: i) Entendê-lo; e ii) Avaliar a prontidão de TI (ou de qualquer outra área de apoio). E não é de hoje, nem de ontem, que tento mostrar que os analistas de negócios desempenham esta função. Querendo ou não, de forma estruturada e pensada ou não. Avaliar se determinada tecnologia, aplicativo ou brinquedinho (gadget) é adequado para um negócio é, desde o início dos tempos, uma das diversas atribuições que podem ser delegadas para analistas de negócios.
Não tem muito tempo que inventamos o Arquiteto Corporativo. Agora, chega esse Arquiteto de Negócios. Até quando seguiremos inventando falsas especializações e acreditando que este tipo de trabalho é coisa para uma pessoa só?
O BABoK® vem na Cola?
Um passarinho me contou que sim². Disse que o IIBA estaria trabalhando em uma nova extensão para o BABoK, uma extensão que falaria exclusivamente sobre Arquitetura do Negócio. Outra bullshitagem passageira? Pergunto porque, um ano atrás, anunciaram uma tal “Extensão Ágil”. Depois de um comedido bafafá e um ridículo draft de 24 páginas, não vi mais nada sobre o assunto. Espero estar errado. Aquela extensão é necessária.
Assim como é necessário que o BABoK saiba falar sobre Modelagem de Negócios. Mesmo que isso se dê pela via torta (e pelo chique nome da moda) da Arquitetura de Negócios. Só é uma pena que a comunidade de AN’s, particularmente a tupiniquim, gaste tanto tempo com picuinhas, festinhas e eventos chuchu (que repetem ad nauseam as maravilhas do BABoK). Se gastassem 10% de seu precioso tempo na evolução daquele “corpo de conhecimentos” o mundo seria um lugar melhor para se viver.
Os Arquitetos já Estão entre Nós
Chegaram em um dos meus clientes. Mas ele não sabia que InfoWorld e IIBA falariam sobre isso. Na realidade, por uma série de motivos, o cliente resolveu dividir o papel dos analistas de negócios em dois: Arquitetos de Negócios e Analistas de Requisitos. Os primeiros atuariam de forma mais próxima ao negócio, apoiando desde a definição do portfólio de projetos até o ponto em que um trabalho mais braçal possa ser delegado para os segundos. Não gosto do desenho, mas entendo e respeito as justificativas para ele. Como é um trabalho que mal começou, ainda não posso falar sobre os resultados. Espero poder fazê-lo em breve.
Conclusão?
Preciso mesmo concluir? Meu encosto-writer acha que sim. Posso dar uma de Dr. House? Então, lá vai: Se você é ou pretende ser um Analista de Negócios, então esqueça o papo sobre Arquitetos de Negócios. É só outro nome que inventaram para você que já foi, é ou pretende ser: analista de requisitos, analista de processos, analista de processos de negócios, business designer, use-case specifier, requirements reviewer etc³. Mas, atenção: siga com curiosidade e carinho tudo o que se refere a Arquitetura de Negócios. Inté!
Observações:
- As outras cinco profissões também parecem ser bem divertidas. Não me segurei e as apresento brevemente, e sem tanto veneno, lá no GRAFFiTi.
- Apesar de confiar bastante no passarinho, fui dar uma conferida (preguiçosa) no amigo Google. Não encontrei nada sobre a extensão, mas vi muito evento do IIBA (ou de gente do instituto) falando sobre Arquitetura do Negócio. Separei dois exemplos: 1, 2.
Ganha um picolé de chuchu o primeiro que começar a falar por aqui sobre como um AN pode “alavancar” a Arquitetura de um Negócio. Depois da crise de 2008, o termo “leverage” e seu risível correspondente tupiniquim “alavancar” deveriam ser banidos dos dicionários. - Se assustou com a extensão da lista? Saiba que um dia ela já pintou, por exemplo, no RUP. E aceite que é assim, e talvez agora como Arquiteto de Negócios, que muitas empresas tratam e seguirão tratando aquela(e) que por aqui é conhecida(o) como Analista de Negócios.
- “sigurd lewerentz, florist, 1969“, a imagem utilizada neste artigo, é de seier+seier e foi liberada sob licença CC-by.