Hoje, dezessete de maio, o {finito} completa oito anos de vida. O oito é o símbolo do infinito (∞), o oposto do que é aqui proposto. Decidi comemorar. Ou melhor, resolvi que este repositório de alguns de meus devaneios merecia um presente. Como se presenteia um blog/site? Roupa nova ele já ganhou em março. Novas funcionalidades e um formato diferente para o conteúdo aguardam deliberações mercadológicas. Restou pensar em um artigo diferente – uma proposta diferente. Talvez algo que pedisse um pouco mais de coragem (ou cara de pau).

Porque foi assim, com muita cara de pau, que o {finito} nasceu. Abri o então chamado finito-log para tornar público o desenvolvimento de um trabalho, o “Aprendizado Inter-Projetos“. Registrei aqui, com ordenação maluca, o artigo que foi aceito no saudoso Developers Meeting e no 6° Seminário sobre Gestão de Projetos de TI organizado pela SUCESU-SP. Criei então a rotina de pesquisar um tema por ano e compartilhar os achados (e perdidos). Mal sabia que criava a base que permitiria o lançamento de minha carreira solo.

Qual tema me levaria a renovar o estoque de óleo de peroba? Tem um que me incomoda desde o ano passado. Lancei seus primeiros rabiscos no descontinuado Graffiti. Sugeri uma Escola Aberta que partisse das bases colocadas pelos eventos independentes (Maré de Agilidade e afins) e avançasse nos seguintes pontos:

  • E se, do conjunto de eventos independentes que pululam por aí, brotasse uma “Escola Aberta”? Escola no sentido de apresentar trilhas de estudo bem definidas, na forma de currículos “vivos”.
  • Por ser Aberta a Escola não teria um processo seletivo. Participa quem quer. Seria uma imensa “Comunidade de Prática”, uma proposta para promover aprendizado que tem entre suas características o fato de seus integrantes se auto-selecionarem.
  • Ops… pois é, não haveria nenhuma linha indicando quem é professor e quem é aluno. Contexto, tema e, principalmente, comunidade, definiriam responsabilidades a cada iteração.
  • Iteração? Hehe… aos bons entendedores, a palavrinha basta.
  • Não haveriam provas, avaliações ou algo parecido. Projetos desenvolvidos na escola (software rodando na cara do ‘cliente’) são a única base necessária para a avaliação dos resultados. A Escola só pode ser julgada pelo “conjunto da obra”.
  • A Escola não teria sede. Cada iteração ocorreria em uma cidade diferente. Mas seria transmitida ao vivo para todos os outros lugares. Todas as interações programadas seriam gravadas. Todo o bate-papo virtual seria persistido de forma a permitir que aquele conhecimento esteja disponível para todos a qualquer momento.
  • A Escola Aberta não emite diploma porque seus cursos nunca acabam. Ou seja, ela não seria apresentada como uma alternativa às escolas tradicionais.
  • Aliás, as escolas tradicionais, com toda a sua estrutura, seriam excelentes hospedeiras desta Escola itinerante.
  • Os custos de cada iteração seriam computados por local, respeitando PIB per capita e custo de vida de cada cidade. Os participantes de cada localidade bancariam a hospedagem da Escola, através de uma taxa de inscrição.
  • Os custos com transmissões ao vivo e manutenção da comunidade virtual seriam pagos por todos os participantes inscritos, através de mensalidades ou algo do tipo.
  • Uma pessoa jurídica, sem fins lucrativos, se faz necessária. Sua direção seria rotativa e escolhida pela própria comunidade. Este trabalho seria remunerado.
  • A Escola Aberta, por ser totalmente livre de amarras e obrigações MECânicas, permitirá a experimentação de novas formas de aprendizagem. E fará uso pleno de todas as tecnologias que pretende ensinar.

Como disse Nelson Rodrigues, “ideia apresentada uma única vez morre inédita”. Não queria que esta sugestão morresse sem uma segunda chance. Acontece que a ideia tomou outras formas. Me seguro de uns dois ou três meses para cá para não tuitar o seguinte: “Um modelo de negócios do final do século XIX faria sentido hoje?” Em outra viagem imaginei o seguinte tuíte: “Que tal um modelo de negócio que combine Guccia, Mintzberg e Tyler Durden?

Pois é, ideias reprimidas, assim como seres vivos, tendem a rebeldia. O que Tyler Durden, personagem de Brad Pitt em “Clube da Luta”, tem a ver com isso? Bem, ele é o idealizador do Clube. A evolução rebelde da ideia trocou “escola” por “clube”. Acho que isso diminui as responsabilidades do arranjo.

Henry Mintzberg é um crítico voraz das escolas de administração, particularmente dos MBA’s. Como contraponto desenvolveu um programa de desenvolvimento de gestores chamado Coaching Ourselves. A ideia central de uma escola sem professores ganha respaldo no modelo criado por Mintzberg.

Giovan Battista Guccia deve ser um dos pensadores mais subvalorizados de nossos tempos. Ele fundou o Círculo Matemático de Palermo que tinha como missão “o incremento e a difusão das ciências matemáticas na Itália”. Mal sabia que seu trabalho influenciaria toda a Europa e o lado norte do outro lado do Atlântico. Em outros tempos, por outros motivos, registrei um resumo da história do Círculo. Dele roubei os principais componentes da ideia aqui sugerida. Por isso falei de um modelo de negócios do século 19.

Por que Não?

Invejo os participantes de alguns think tanks (usinas de ideias) legais que existem lá fora, como o STOOS Network e o MIX (Management Innovation eXchange). Mesmo que a Internet não nos deixe longe demais das capitais do pensamento, estar lá, fisicamente, seria outra experiência. Por aqui temos algumas confrarias e panelinhas, além dos poluídos e quase inúteis grupos de discussão e estudo. Todos muito distantes em propósito, forma e conteúdo das usinas lá de fora.

A Harvard Business Review deste mês tem um interessante artigo sobre “A Ascensão dos Supertemps“. São profissionais muito qualificados que trabalham de forma autônoma, por projetos. Em muitos casos eles ocupam cargos diretivos interinamente. Ao registrar suas principais preocupações, fora o fluxo de caixa, o texto destaca: i) crescimento profissional ; e ii) “o supertemp às vezes se sente só”. Léa de Luca registra em um complemento que aqui no Brasil não existem supertemps. Se muito, alguns advogados poderiam ser vistos assim. Mas temos muitos consultores independentes (sou um deles), pequenas organizações (que giram em torno de 5 ±2 cérebros) e um crescente universo de radicais-agentes livres (fracamente acoplados aos seus empregadores). Creio que todos compartilham as duas preocupações acima. Desconfio que eles teriam interesse em participar de um Clube que lhes oferecesse:

  • Oportunidades de aprendizado a partir da troca de experiência com outros profissionais;
  • Grade curricular derivada das Grandes Disciplinas e dos Grandes Desafios dos novos tempos;
  • Organização Aberta e Democrática;
  • Agenda flexível com encontros presenciais e virtuais;
  • Apoio para a evolução da carreira ou negócio;
  • Boas conversas…
  • … em ambientes agradáveis.

Carrego mais algumas ideias sobre o clube. Mas não vejo sentido em evoluí-las sozinho. Talvez todo esse papo não dê em nada. Talvez seja o estopim para algo novo e legal. Quem sabe? E por que não?