A mais nova moda é antever modas. É o que diz Gabriel Louback no artigo Nostradamus 2.0 (publicado na edição de junho da Revista da Cultura). Se fôssemos um pouco mais atentos, teríamos percebido a tendência bem antes. Em Reconhecimento de Padrões (Aleph, 2004), por exemplo, William Gibson apresenta uma protagonista que é coolhunter – uma caçadora de tendências. Aliás, Gibson e outros grandes da ficção científica¹ estão entre os melhores antecipadores de tendências que conheço. Será porque eles pavimentam e indicam caminhos? Somos orientados por profecias?

Fábio Gandour, da IBM, afirma que sim: “Tendências não acontecem espontaneamente, são criadas! E, normalmente, você caminha, sem perceber, na direção que pretenderam. Quem não acredita nisso é ingênuo ou tolo“. É disso que trata, enfim, todo o blablablá sobre inovação. Antever uma rota e rogar para que os fregueses sigam, como os ratinhos da fábula, os novos flautistas de Hamelin. Há ciência nessa ficção? Ou é tudo chute?

Acho que sempre teremos uma combinação das duas coisas, de ciência e intuição. Diferente agora é a ênfase no aspecto intencional (racional) da projeção de tendências. Em O Futuro como um Bom Negócio (Campus, 2011), Daniel Burrus e John Mann oferecem boas provocações². Os autores sugerem a classificação de tendências entre fortes e fracas e que o novo desenho – seja de um negócio, produto ou serviço – as tenha como base. Tratando só de tecnologia, por exemplo, temos três tendências fortíssimas que estão conosco desde o início dos tempos (nossos tempos). Todas relacionadas com o aumento exponencial de : i) Poder de processamento; ii) Capacidade de armazenamento; e iii) Largura de banda. Delas derivaram vertentes do avanço tecnológico, como a virtualização, mobilidade, interatividade e convergência, dentre outras.

Mas será um grave erro a projeção de tendências que tome por base apenas os avanços tecnológicos. Peter Drucker, em Desafios Gerenciais para o Século XXI (Pioneira, 1999), fala sobre as “questões quentes de amanhã”. Seu escopo de análise é consideravelmente maior. Trata desde a globalização e o avanço de nações emergentes até a mudança no perfil de TI (do T para o I), passando pelo envelhecimento da população mundial e pela necessidade de um novo tipo de gestão e liderança. Drucker sempre foi um observador privilegiado. Por isso a precisão de suas previsões não surpreende.

Acho que eu poderia listar mais uma dezena de obras seminais sobre o amanhã. Não destacar A Vida Digital (Cia. das Letras, 1995), de Nicholas Negroponte, por exemplo, é quase um pecado. Mas ele, de certa forma, é profecia já realizada. Deve interessar, assim como os livros do Drucker, para que possamos aprender a antever. E é este o ponto. Aliás, é esta a tendência.

E o que nos ensina a antever? Há uma disciplina ou corpo de conhecimentos que ajude pessoas e organizações a antever e desenhar seu futuro?

 

Notas

  1. A lista dos grandes escritores de ficção científica é imensa. Perdemos, no início deste mês, um dos maiores: Ray Bradbury. Poderia listar Julio Verne, Isaac Asimov e outros tantos. Me limitarei a destacar meu favorito, o maior porra-loca de todos: Philip K. Dick. Quem se limita a conhecê-lo através dos filmes inspirados por suas obras (Blade Runner, O Pagamento, O Vingador do Futuro etc) não faz ideia do que está perdendo.
  2. Por razões óbvias, há uma provocação que mais me chamou a atenção. Diz mais ou menos assim: Agilidade é coisa da década ou do século passado. Hoje ela não basta. E pode até ser nociva. Hoje precisamos antever e evitar o desperdício de tempo e dinheiro. Mais que isso, precisamos fazer a próxima curva na frente da concorrência.
  3. Não deixarei aquelas duas últimas questões sem respostas. Aguardarei seus palpites e um pouco mais de inspiração.
  4. Crystal Ball, a fotografia que ilustra este artigo, é de Steve Weaver.