A elaboração do Mapa do Inferno forçou e reforçou algumas sinapses. Quando ultrapassei a fronteira de 200 itens catalogados uma primeira ficha caiu: quanta coisa! Só ali, em um pequeno universo envolvendo negócios e TI, são dezenas de corpos de conhecimentos, métodos e disciplinas. Contei centenas de ferramentas.

Durante o último século montamos sistemas de ensino e trabalho orientados por uma lógica cartesiana, reducionista. E empacotamos padrões, métodos e ferramentas de forma a criar e sustentar ligações diretas entre empresas e escolas. Como o ritmo de evolução dessas duas entidades é bastante distinto, um dia Drucker cravou¹: “Quando um tema se torna completa e irremediavelmente obsoleto, a universidade o transforma em uma disciplina obrigatória”.

Não é por acaso que muita gente sente um choque quando estreia no mundo dos negócios. Parece uma viagem no tempo e pelo espaço. Não se trata de desmerecer as escolas pela distância. Nem de clamar que elas acompanhem o ritmo dos negócios. Elas não existem para isso. Deveriam ensinar a pensar, só isso (tudo). Ferramentas “do mercado” ou “da moda” deveriam ser temas extras, apêndices ou atrações de feiras. Não o núcleo dos currículos. Mas esse papo é espinhoso e não pretendo gastar nosso tempo nele.

Voltando ao mapa: quando comecei a buscar relações entre os itens, caiu a segunda ficha. É enorme a quantidade de sobreposições. Ilustrando: Gerenciamento de Projetos, Análise de Negócios, Análise de Sistemas e Desenvolvimento de Produtos. E se eu lhe dissesse que pelo menos 50% dessas áreas compartilham necessidades, responsabilidades e, consequentemente, ferramentas? Dependendo dos agrupamentos (de disciplinas ou caixas), a área de interseção pode superar os 80%. Não curto Tom Peters, mas ele acertou em cheio quando disse “se não estiver confuso, não está prestando atenção”.

Confusão não falta. Pegue, por exemplo, essa questão não respondida no Quora. É o tipo de dúvida que inferniza a vida do trabalhador do conhecimento dos novos tempos. O que devo estudar? Por onde começo? Qual caminho leva ao pote de ouro mais rechonchudo? Qual carreira combina comigo? E, talvez, a pergunta mais importante: quais métodos e ferramentas me ajudariam a realizar o meu trabalho?

Uma ferramenta está na caixinha do gerenciamento de projetos. Outra parece ser da análise de negócios. Aquelas ali, bem legais e modernas, são coisa dos designers. E aquilo ali? Hã, arquitetura de soluções? E aquele método ali é só da turma de TI, é? Como uma criança em uma grande loja de brinquedos, o trabalhador do conhecimento nem sabe para onde olhar.

Nossos mapas e legendas estão sendo mal interpretados? Eles são superestimados? Estariam errados? Qualquer hesitante SIM nos forçaria a esquecer um pouco os mapas (currículos, disciplinas, job descriptions e outras caixas) e a confiar no terreno.

Notas

  1. Peter F. Drucker em Drucker em 33 lições, p. 63 (Saraiva, 2011).
  2. Globe, imagem trabalhada por Brenda Clarke, ilustra o artigo.