Hoje comemoramos o Dia Mundial da Educação. Comemoramos? Como ninguém ganha dinheiro com isso – com a data – você não deve ver muita coisa por aí. Aqui, uma pequena anticomemoração. Provocações surrupiadas de três caras mal educados.
Peter Drucker
A primeira coisa a ser dita – e que vale a pena repetir – é que o sistema educacional não está em crise por ter piorado subitamente. O sistema educacional está em crise porque seu papel para o indivíduo e para a sociedade mudou radicalmente, porque ele passou a ser muito mais importante do que jamais foi.
O “aprendizado” é um processo que ocorre ao longo de toda a vida e não no limbo especial para aqueles velhos demais para “brincar” e os novos demais para “trabalhar”.
A “escola”, como a instituição na qual se “aprende” – enquanto em todos os outros lugares se “faz”, independentemente de se “brincar” ou “trabalhar” -, está se tornando indefensável.
O aprendizado de amanhã, da pré-escola até a educação continuada mais avançada para adultos, utilizará e aplicará o ritmo do próprio indivíduo, sua própria velocidade de aprendizado, seu próprio padrão.
Em seus métodos, a escola de amanhã não será “comportamental” nem “cognitiva”, não será “centrada na criança” nem “centrada na disciplina”. Ela será eclética. Para aprender tudo, precisamos da tríade comportamental de prática, reforço e feedback. De outra forma, tudo o que tentarmos aprender nunca será alojado na memória de longo prazo e nunca será aprendido.
Russel Ackoff
Muitas escolas colocam uma tampa na cabeça das crianças. Curiosidade e criatividade são suprimidas. Aprendizado é confundido com memorização, convertido em trabalho e distanciado da diversão. São poucos os que conseguem reunir trabalho, divertimento e aprendizado em fases futuras da vida.
A escola de hoje é modelada como uma fábrica. O estudante que chega é tratado como matéria prima que deve entrar em uma linha de produção e ser convertido em um produto final. A matéria prima é muito variada mas o processo é uniforme. O sistema tenta minimizar a variedade para manter os custos de produção bem baixos. O processo educacional é considerado um sucesso se o produto final for vendido bem caro. O sistema até estampa marcas e números em seus produtos.
Escolas são organizadas em torno de disciplinas. É uma maneira conveniente de rotular e “entregar” conhecimento. Mas o mundo não é organizado da mesma maneira que as escolas. Não existem problemas de física, química, biologia, psicologia, sociologia etc. Nomes de disciplinas depois da palavra “problema” não revelam absolutamente nada sobre o problema; revelam apenas o ponto de vista que quem o observa.
A educação da Era dos Sistemas não deve ser organizada em torno de disciplinas rigidamente definidas e distribuídas em um calendário. Ela deve ser orientada a desenvolver o desejo de aprender e as habilidades necessárias para tal.
A educação da Era dos Sistemas é um sistema que aprende e se adapta.
Ricardo Semler
Se eu fosse estudante hoje faria milhares de bótons com a hashtag #chegadetortura para ostentar na sala de aula. Hoje, terça-feira (28), é o Dia Mundial da Educação, e cá estamos nós tentando melhorar a gestão – reciclagem e firulas – de um sistema medieval.
Paremos de culpar professores, acusando-os de corporativistas e letárgicos. Cessemos o giro da engrenagem da tortura que mói os alunos, vítimas da ditadura das aulas maçantes. O conceito da escola atual caducou. Fim.
A escola que temos é resultado da ideia iluminista de que tudo precisa ficar guardado na cabeça. Na era do Google, é um crime insistir no método da decoreba. Argumenta-se que a meninada está aprendendo a aprender. Que balela: quem tem filho sabe que eles aprendem a andar e até a falar sem ajuda – já chegam de fábrica com a capacidade de aprender a aprender.
O tal de mercado de trabalho, então, é um algoz de pijama. Ou alguém acredita que passar por uma escola rigorosa, usar uniforme e decorar a tabuada prepara alguém para trabalhar nos Instagrams da vida? Queremos preparar nossos filhos para trabalhar na General Motors de 1952?
Notas
- As palavras de Drucker são de uma palestra de 1971. Estão disponíveis em Drucker em 33 Lições (Saraiva, 2011).
- O artigo original de Ackoff é de 1974 e pode ser encontrado em Ackoff’s Best (Wiley, 1999).
- A “colaboração” do Semler foi surrupiada de um artigo publicado na Folha de São Paulo de hoje, 28/abr/2015.
- “Na Escola Rural” é o nome da foto, compartilhada no Flickr por Eduardo Amorim.
- Mais uma longa greve de professores. Luan Santana cantando “Another Brick in the Wall pt. 2”. O bilionário mais besuntado de Pindorama tentando comprar outra escola. Papais conferindo o cardápio “orgânico” (nada daquele ketchup!!) e o CV da professorinha de dança. São algumas paisagens com a hashtag #EducaçãonoBrasil.