Da matilha ao organismo vivo, passando por exército, máquina e família. São muitas e variadas as metáforas e analogias utilizadas para explicar organizações e empresas. Elas podem ser fruto de uma interpretação. Ou a intenção de definir uma identidade e cultura – padrões de comportamento e um jeito de fazer as coisas, de tocar o negócio.

Você tem uma metáfora favorita?  Ela de fato influencia as suas atitudes e decisões? E se eu te falasse da possibilidade de um modelo – uma lente – universal, você acreditaria?Segundo Frederic Laloux¹, coexistem atualmente cinco visões – ele prefere paradigmas – bastante distintas de organizações. A mais antiga, com cerca de dez mil anos, é a visão Impulsiva. É o paradigma Vermelho. A metáfora é a matilha. Gangues, torcidas organizadas e milícias seriam bons exemplos. Bons? Pense em grupos pequenos e bastante homogêneos em termos de formação e gostos. Eles têm um líder forte e facilmente identificável. Agora, por sua conta e risco, tente se lembrar de alguma organização ou negócio que se encaixe nesta categoria.

A visão Conformista – paradigma Âmbar – deriva das organizações militares e da Igreja Católica. Demonstra estabilidade através (por causa?) de uma rígida estrutura hierárquica. Mira o longo prazo e detesta mudanças.

Da conformista para a visão Realizadora – paradigma Laranja – foi um pequeno passo. A estrutura ganha certa maleabilidade através da meritocracia. Os processos ganham impulso e velocidade por causa da colocação de objetivos de médio e curto prazos. Este paradigma, segundo o autor, ainda caracteriza a maioria de nossas empresas. A metáfora que o simboliza é a máquina. Algo desumano mas animado e produtivo. A visão é tão forte que foi adotada tanto por organizações capitalistas quanto comunistas. O modo de produção era idêntico, apesar do abismo que separou as ideias. Estamos no século 19.

Pelos idos dos doidos anos 1960 surge uma nova cor, o paradigma Verde. É a visão Pluralista, que propõe uma cultura guiada por valores. Inventamos o lamentável termo empoderamento e adotamos a metáfora família para explicar esse tipo de organização.

Hoje testemunhamos o nascimento de um novo paradigma – Teal, verde azulado ou viceversa. É a visão Evolucionária e a analogia é com organismos vivos. Laloux estudou doze organizações – com ou sem fins lucrativos – que ilustram essa visão. Auto-organização, visão do todo e o propósito evolucionário seriam as suas principais características.

Além do Arco-Íris

Generalizações são sempre muito perigosas. Laloux foi cuidadoso. Mas a pressa em dissecar as organizações Teal o impediu de trabalhar melhor as infinitas variações de tonalidades. Nem toda empresa “laranja” (ops!) é meritocrática. Nem toda empresa “verde” tem coragem de admitir publicamente os seus valores. Enfim, empresas – como a gente – são únicas. Feias ou bonitas, ágeis ou lerdas, simpáticas ou não.

O que não invalida a classificação proposta por Laloux. Sua pesquisa foi tudo, menos preguiçosa. E a lista de modos e práticas que definem a identidade Teal são belíssimas provocações para qualquer um que pretenda montar, gerenciar ou estudar negócios.

Um Modelo

Pretender que a visão de empresas como organismos vivos é algo novo significa ignorar um riquíssimo corpo de conhecimentos que se desenvolve há décadas.

Entender que “organismo vivo” é uma metáfora te fará desperdiçar a oportunidade de conhecer e utilizar uma série de conceitos e ferramentas para desenhar e diagnosticar negócios.

Esqueça as analogias e veja um negócio como ele realmente é, como ele de fato funciona.
Caramba, acho que nunca me arrisquei tanto numa frase. Em tempos de complexidade e caos, esse tipo de certeza deveria suscitar dúvidas e desconfianças. Que seja, desde que tenha despertado também alguma curiosidade.

Porque o resto desta história eu só vou contar na próxima terça-feira, 27/6, ao vivo na aula aberta Imagens da Organização. Te espero lá.

Notas

  1. Reinventing Organizations (Nelson Parker, 2014).
    O polêmico Ken Wilber deve ser creditado como autor do modelo que serviu como ponto de partida para a pesquisa de Frederic Laloux. Também é dele o prefácio da obra. Mas a porção “meta” e pseudocientífica de seu trabalho não deu as caras, para alívio de uns e desgosto de outros. 
  2. O título deste artigo e da aula aberta é uma singela homenagem a Gareth Morgan, autor de livro homônimo (Atlas, 1996).
  3. Instagram-6133401, a imagem acima, foi disponibilizada por yanfoto no flickr.