A simplicidade é uma arma quente¹. Quem não gosta do que é simples e direto? Quem não distingue uma boa resposta da enrolação? Quem não curte um bom feijão com arroz?A complexidade lá fora é grande e só vai aumentar. Exponencialmente. Um contraponto é necessário. Que a nossa resposta seja o exato oposto. Que seja simples, não simplória. A gente sabe distinguir. Todo mundo sabe.

Desconfio, como bom mineiro², que se aquela turma que publicou o Manifesto Ágil tivesse utilizado a ferramenta 5 Porquês o grito seria outro: um Manifesto pela Simplicidade. Soaria menos ambíguo. Não teríamos que aguentar distinções absurdas entre o adjetivo e o substantivo. E a agilidade seria uma consequência natural – uma propriedade que emerge do que é simples.

Torço, como bom cidadão, para que juízes, advogados, vendedores e políticos sofram uma epidemia de senso de ridículo. E passem a rir de seu passado de falas e escritos empolados – há termo mais adequado? Que as togas sigam o mesmo destino.

A simplicidade é um valor universal. A navalha de Occam deveria ser treinada desde a pré-escola. Ai dos professores que complicam. Azar dos jênios que insistem em explicar algo que ainda não aprenderam.

Não é fácil ser simples. Entender que menos é mais é um desafio e tanto em vários contextos. Na escrita, no desenho de produtos e soluções, na pauta de uma reunião, em propostas para clientes, numa declaração de amor. A combinação de Occam com Pareto pode ajudar. Dizer em duas páginas aquilo que gastou dez. Resumir em segundos aquele vídeo que dura uma eternidade. Acelerar a declaração com um sincero beijo roubado.

Um desejado efeito colateral: nosso vocabulário ficaria enxuto e elegante. Palavras difíceis e estrangeirismos seriam recebidos com desconfiança. Substantivos transformados em verbos soariam como arrotos. O focado perderia sentido – nunca teve. Imagina a claridade.

Não é fácil ser simples. Mas precisamos tentar. De complexo basta o mundo.

Notas

  1. John Lennon cantou que “a felicidade é uma arma quente”. Desconfio que há uma forte relação entre a felicidade e a simplicidade.
  2. João Guimarães Rosa explicou os bons mineiros: a gente não sabe nada; mas desconfia de muita coisa.
  3. Mea culpa: um breve passeio pelo finito vai mostrar como posso ser prolixo, verborrágico, redundante e desnecessariamente complicado. Como na última frase. Porque isso é fácil.
  4. The Black & White de Robin Mehdee ilustra este artigo.