Quais são as alternativas ao Dono de Produtos (PO)? Um comitê? Não seria muito ágil. Um portão escancarado para as demandas? Aumentaria exponencialmente os riscos de desalinhamento e desperdício. Analistas de negócios? Não são diferentes dos POs sem poder. Quando entendemos o valor do recurso PO, fica difícil abrir mão dele.

Imagine que o grupo com todos os envolvidos – clientes, usuários e desenvolvedores – tenha 20 pessoas. Vamos considerar que há apenas um tipo de relação entre elas. Sendo assim, n(n-1)/2, temos um total de 190 relacionamentos possíveis. Aumente o número de pessoas (n) e perceba o tamanho da bagunça – da variedade. POs são filtros de variedade – dos ruídos, interesses conflitantes e picuinhas mil.

Mas não se trata de um filtro qualquer, desses que a gente pode transformar num algoritmo ou tratar como um processo de triagem. Esse filtro seria apenas uma restrição. E a gente não quer que o PO seja visto assim.

Uma palavra nos basta: CRIATIVIDADE. Dos limões o PO faz limonada. A partir de toda a cacofonia de desejos, necessidades, vontades e caprichos o PO orienta um processo de criação. Repare, ele não cria nada sozinho. Seu valor está em fazer uso inteligente e criativo de pessoas inteligentes e criativas. Para tanto, o PO inspira essas pessoas.

Podemos entender, então, que o PO é um tipo de facilitador, coach ou palestrante motivacional? Por favor, não! Porque um pequeno detalhe, formado por quatro letras, o diferencia dessa turma divertida: ele é o DONO do produto. No final das contas, é ele quem presta contas¹. Como diria um Taleb tupiniquim, “é o dele que está na reta”. Isso faz toda a diferença. E nos faz pensar duas vezes antes de abrir mão do PO.

Notas

  1. Segundo o mestre Clóvis Rossi, é esta a melhor tradução para o termo accountability.
  2. A singela imagem utilizada foi compartilhada no flickr por Direct Relief