Quanto tempo dura um time de verdade? A partir de que momento as mudanças em sua estrutura se tornam necessárias? Nesses tempos líquidos¹, faz sentido brigar por times estáveis? Se não, o que pode ser feito para mitigar os efeitos das mudanças constantes?
Que seja eterno enquanto gerar resultados
Que seja eterno enquanto promover relacionamentos saudáveis e inspiradores. Não parece haver uma idade ideal para times. Nem pesquisas minimamente abrangentes sobre o assunto. Seria fácil chutar algo entre um e quatro anos. Dadas a velocidade das mudanças e a reincidência dos timecídios, parecem anacrônicos os times que conseguem sobreviver por mais de doze meses.
Configura-se um timecídio o desmanche de um time que estava gerando valor de facto ou demonstrava potencial para fazê-lo. Além do grande desconforto gerado, para os integrantes do time e para todos que se relacionavam com ele, um timecídio é causa clara e nunca contabilizada de grandes desperdícios. Porque aquele capital social – a coesão interna entre membros do time e as relações de confiança construídas com entes externos – não caiu do céu nem custou barato. E porque, claro, aquele ritmo de entrega de valor foi quebrado e pode demorar para ser retomado.
Assim como devemos incentivar a cooperação², faz sentido que a gente celebre e até mesmo premie os times longevos. Isso é facilitado quando a empresa se organiza em torno de produtos e não de projetos.
A Estabilidade Requerida
Nesses tempos líquidos, quanta estabilidade é possível? E quanta estabilidade é desejável?
Há tempo nos ensinam que a aquisição de novos clientes é seis vezes mais cara do que a manutenção de um. É bem possível que essa conta esteja defasada. Porque, aparentemente, a infidelidade da freguesia só faz aumentar.
Um time estável tende a aumentar a intimidade da organização com seus clientes e usuários. A confiança aumenta. É um ciclo virtuoso que deve ser motivado. Porque é mais fácil atender um cliente bem conhecido; Porque fica mais difícil perder um cliente bem atendido. Nesses tempos de vacas magérrimas, perder clientes por conta de mau atendimento/entendimento é um luxo só.
Portanto, se não por outros motivos, a estabilidade de um time é desejável por significar relacionamentos melhores e mais estáveis com clientes. O que é um tanto mais notável e caro, mas não exclusivo, em empresas prestadoras de serviços.
A Instabilidade Inevitável
Até que ponto as pessoas querem amarrar sua carreira a um produto ou linha de produtos? Quantos, hoje, topariam vincular sua evolução à permanência em uma mesma organização? A infidelidade é regra. E erram feio – feio em mais de um sentido – aqueles que atribuem apenas ao dinheiro a razão para tanta volatilidade.
Muita gente, conscientemente ou não, busca variedade. Elas querem assuntos, funções e responsabilidades diferentes. Há mais opções supostamente mais atraentes a cada dia. É um mal dos nossos tempos o medo de ficar de fora³. Não será através de chantagens ou doping – os viciantes bônus, prêmios e promoções – que conseguiremos a motivação e consequente lealdade de um time. Ou seja, aquela estabilidade requerida pelas organizações raramente encontrará respaldo nos planos das pessoas.
Nem sempre foi assim. Nossos pais e avós contam com orgulho a história de uma vida profissional que se desenvolveu em apenas uma ou duas empresas; Em um mundo que não existe mais. Ao invés de cobrar por uma fidelidade impossível, as organizações precisam ser desenhadas não apenas para acomodar mas para incentivar essa fluidez.
Como?
Notas
- Definição de Zygmunt Bauman, em livro homônimo (Zahar, 2007), para os nossos tempos de extremas incertezas.
- Em uma das edições da conversa sobre Grandes TIMES Pequenos rolou um debate sobre o uso do termo cooperação em detrimento de colaboração. Opto pelo primeiro desde que aprendi que co-opera, do original em latim, significa comprometimento com o resultado. Co-labora, também do latim, refere-se ao trabalho em equipe, no mesmo local, ombro a ombro – mas não fala sobre resultados. A distinção é bem didática em Six Simple Rules, de Yves Morieux e Peter Tollman (HBR, 2014).
- Fear of Missing Out, ou FoMO, no original em inglês. Na Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_FOMO
- Foto de Devon Janse van Rensburg no Unsplash.