“Certo perdeste o senso!”
Perdão Bilac, mas não resisti. Não é a primeira vez que surrupio belas obras com fins questionáveis. Certo não será a última. A espoleta da vez não veio de TI, mas de um mundo tão distante quanto Pandora está da Terra: veio da bola, do pé na bola, do futebol. É a Copa que se aproxima. Mas não deveria ser. O futebol é algo tão rico de ensinamentos que merecia outro status e mais presença. Pena, ele segue em outra direção. E acaba de perder um de seus melhores tradutores, Sr. Armando Nogueira. Pena. Mas voltemos ao princípio: “Ora (direis) Gerir Estrelas!”
“Certo perdeste o senso!” Porque, se há algo difícil de gerenciar, é a tal da estrela. Dá de mil e um no pior dos piores projetos. Dá de mil e dois no pior dos piores fregueses. Estrela, como o Flamengo está aprendendo da pior maneira, está sempre acima da gerência. Não apenas na grana depositada mensalmente, mas em praticamente tudo.
É certo que estrelas de verdade brilham. Adriano foi o artilheiro do último campeonato brasileiro. Sem ele provavelmente o Hexacampeonato não teria acontecido. Em outra nação, a Corinthiana, Ronaldo decidiu, no primeiro semestre de 2009, uma série de partidas importantes. Sem ele o Timão não teria conquistado dois campeonatos. Benefícios assim costumam fazer com que os custos sejam tratados como pequenos detalhes, bobeirinhas. Perdão, mas são pouquíssimos no mundo que podem tratar um milhão de qualquer coisa por mês como um pequeno detalhe. No Brasil, talvez o Batista e mais dois. E olhe lá!
O custo (exorbitante) de uma estrela é fixo. Seus resultados variam mais que bolsa de valores em tempos de crise. O que permite concluir que, em médio e longo prazos, uma estrela nunca se paga. Ok, “nunca diga nunca”. Então fechamos com “quase nunca se paga”.
Defina “Estrela”
Estrela é o craque, o expert, o bambambam em determinada área do conhecimento. Domina como poucos sua arte. Quando brilha, o faz de forma tão intensa que cega, maravilha e entorpece.
Se a definição se limitasse ao que foi escrito acima este artigo não teria razão de existir. Acontece que uma estrela é apaixonada pelo próprio umbigo. Se acha tão acima dos normais que acaba criando um universo só seu. Heliocêntrico, é claro. Tem seus próprios processos e regras. Seus próprios horários e calendários. E ai de quem discordar.
Talvez só o futebol rivalize com TI no número de pessoas que recebem, de forma pejorativa ou não, apelidos como “deus”, “rei”, “gênio”, “monstro”, “fenômeno” etc. Mas há ESTRELAS e estrelas. Existem as anãs e as pagãs, as supernovas e os buracos negros. Supernovas, por exemplo, berram por “autogerenciamento” mas não conseguem botar ordem na própria mesa. Já os buracos negros sugam toda a energia (e recursos) ao seu redor – são mal humorados de nascença – e costumam sumir antes que algum resultado seja entregue.
Em comum todos os (nossos) tipos de estrelas só apresentam dois fatores: i) normalmente são realmente bons no que fazem; mas, ii) são difíceis, chatos, desagradáveis etc etc etc.
Seu Projeto depende de uma Estrela?
Meus pêsames. Ops… perdão. Não são raros, particularmente numa área tão nova, dinâmica e mal formada como TI, projetos que dependam muito da atuação de um craque. E é importante notar que nem todo craque é estrela. É claro que existem os humildes e mortais – que se caracterizam principalmente pelo tanto que são cientes de suas próprias limitações. Traduzindo: craques sabem dizer “NÃO”, “NÃO SEI” e também nunca apresentam estimativas absolutas. Mas você não deu a sorte de contratar um craque. Tens uma estrela em suas mãos. E agora?
Só tenho duas dicas:
- Não crie a ilusão de um relacionamento duradouro. Contrate a estrela especificamente para um projeto. E faça girar em torno dela um ou dois planetas (funcionários de sua confiança) que tenham: i) estômago forte; ii) vontade de aprender.
- Vincule todo e qualquer pagamento à entrega de resultados. Faça com que a estrela se comprometa realmente com o sucesso do projeto. Desconheço outra maneira que não seja através do zelo extremo com os desembolsos e reembolsos.
Seu Gerente é a Estrela?
Hmmm… Mas que situação, hem? Não prestou atenção na hora da entrevista não? Ok, pode não ser o fim do mundo. Considere uma das alternativas abaixo:
- Trocar de emprego;
- Tomar o lugar do gerente;
- Ajudar alguém (gente boa) a tomar o lugar do gerente;
- Convencer o gerente que ele será mais importante, mais bem visto, mais sexy e bem sucedido se começar a trabalhar para a equipe, esquecendo o comportamento “comando & controle” e aprendendo que a “delegação de poderes” o fortalece e não o contrário. Pode garantir que, se ele aceitar tudo isso, será convidado para todos os happy-hours e churrascos da turma.
Você é a Estrela?
Desculpa aí. Não é nada pessoal não, viu gente fina?
Inté!
.:.
Slinky Abstract, a foto utilizada este artigo, é de Paul Stevenson.