Vivemos o Século da Complexidade. Não que ela, a tal complexidade, só tenha surgido agora. Está conosco desde o início dos tempos. Acontece que esse bicho de inúmeras cabeças ficou mais notável e relevante. Nosso desenvolvimento e até a nossa sobrevivência depende de seu entendimento. Mas, afinal, o que é complexidade? É possível mensurá-la? Por que cargas d’água ela tende a crescer? E o que isso tem a ver com a gente?
Com.ple.xi.da.de (s.f.)
Qualidade do que é complexo. (Michaelis)
Com.ple.xo adj. 1. que se compõe de elementos diversos relacionados entre si s.m. 2. conjunto, aglomerado 3. psic. conjunto de sentimentos de forte valor emocional que se refletem na personalidade de uma pessoa ~ complexidade s.f. (Houaiss)
Neil Johnson mostra que dicionários em língua inglesa também confundem quando tentam explicar a complexidade¹. A definem como o comportamento de um sistema complexo. Este, por sua vez, é descrito como sendo um sistema cujo comportamento exibe complexidade. Santa recursividade escorregadia!
Complexo vem do latim, plectere. Significa trança ou entrelaçar. Uma trama não muito regular, repleta de nós, é uma imagem recorrente quando ilustramos a complexidade.
As explicações acima são suficientes? Não. É curioso, mas ainda não temos uma boa definição para a complexidade.
Complexidade é um adjetivo e uma unidade de medida. Subjetiva e desconcertante medida. O que medimos? O grau de ordem ou desordem demonstrado por determinado sistema. Ou sua previsibilidade. Ou o número de conexões. Ou a diversidade de elementos. Cada modelo proposto enfatiza uma característica. Todos acertam. Mas todos estão incompletos.
O Cynefin² fixa duas dimensões: a existência ou força de um controle central e o grau de conectividade entre os componentes. Jurgen Appelo³ prefere falar de estrutura e comportamento, sendo que apenas este pode ser complexo.
(Mais sobre eles em futuros artigos)
Bola de Neve
A complexidade aumenta na medida em que mais pessoas e coisas são conectadas. Nossas redes sociais ainda acomodarão outros bilhões de pessoas. A Internet das Coisas (IoT) vem aí para interligar tudo quanto é tipo de objeto. Cada pessoa manterá ligações com centenas de coisas. Tempo verbal mal colocado…
Todo santo dia a rede ganha um sem número de novos nós. Nós pronome e nó substantivo. Entender a complexidade que só faz crescer não é luxo ou necessidade futura. É pra ontem!
Ciência
O estudo da complexidade é “a ciência das ciências”, uma disciplina guarda-chuva¹. Não é apenas interdisciplinar ou multidisciplinar. O salto pelos silos, caixas e vícios das ciências tradicionais exige uma postura meio indisciplinada mesmo.
E não importa muito que não tenhamos (ainda) uma boa definição e uma teoria abrangente da complexidade. Não é difícil identificar um sistema complexo, como veremos no próximo artigo. E para uma requerida postura prática e pragmática, é isso o que interessa. Por enquanto. Inté!
Notas
- Simply Complexity – A Clear Guide to Complexity Theory
Neil Johnson (OneWorld, 2009) - The New Dynamics of Strategy: Sense-Making in a Complex and Complicated World
Cynthia F. Kurtz & David J. Snowden (IBM Journal of Research and Development – n. 3, 2003) - Management 3.0
Jurgen Appelo (Addison-Wesley, 2011) - O título não vem da esfinge. Foi surrupiado de Clarice Lispector:
“Decifra-me, mas não me conclua, eu posso te surpreender.“ - Dandelion with Waterdrops 2
Foto da tanakawho, que andava meio sumida daqui.