Visão do Todo

Em um mundo cada vez mais imediatista e cheio de gente focada¹ no próprio umbigo, é preciso alguém que veja o lá e o amanhã além do aqui e agora. O analista sabe que melhorias locais podem piorar o resultado global. Entende que mudanças, por melhores que sejam, sempre vão desagradar alguém. Ele precisa enxergar o todo.

Se vai chamar isso de análise de impacto ou gestão de mudanças não faz muita diferença. Mas a adição do Pensamento Sistêmico ao seu cinto de utilidades não é nada menos que fundamental.

Imparcialidade

Se o analista tomar partido – ficando sempre na defesa de uma das partes envolvidas – condena todo o seu trabalho. Empatia não significa apoio incondicional. O que deve nortear suas decisões e sugestões são os objetivos do negócio e de cada projeto. Nada além disso².

Pragmatismo

É natural, portanto, que o analista seja bastante pragmático. Se há um objetivo colocado e em dado momento acordado, é pra lá que ele vai. Se surgiu alguma discordância em relação ao objetivo, é ela que ele tenta entender e desfazer. Se não há um objetivo e ninguém sabe para onde vai, o analista pragmático briga pela sua definição. Se ele perder a briga, sai em busca de outra.

Saber Ouvir

Qualidade cada vez mais rara. Saber ouvir não é saber esperar a vez de falar. É prestar atenção e demonstrar respeito. É entender que cada vírgula, expressão corporal ou suspiro pode conter informação. Por isso o analista ouve com os olhos pregados em seu interlocutor e não em um bloco de anotações. Ele sabe que 75% das informações não estão nas palavras que são ditas. Seus olhos captam mais que os ouvidos. Seus olhos o ajudam a ouvir direito.

Modelagem

Quanto tempo você demora para entender o significado da seguinte definição: “superfície plana limitada por uma circunferência, cujos pontos são equidistantes do centro”?

Não importa, você teria sido bem mais rápido se eu tivesse simplesmente desenhado um círculo³. Nosso cérebro é melhor equipado para processar imagens do que palavras. É por isso que o analista rabisca e desenha o tempo todo. É por isso que a Modelagem de Negócios não pode ser um apêndice ou puxadinho no corpo de conhecimentos do analista de negócios. Se o nosso grande desafio é promover comunicações eficazes, saber modelar é imprescindível.

Síntese

O analista não se deixa enganar pela incompleta alcunha que recebeu. Ele não faz só exames e estudos. Sua análise não significa nada – não agrega valor algum – quando não é seguida da síntese. Pelo pai dos burros, síntese é a reunião de diversas partes diferentes em um todo coerente. Para o analista, na prática, significa colocar seu cérebro para trabalhar. Síntese não é resumo nem coletânea de melhores momentos. Síntese é criação. Se ela não ocorreu, então o cara tirou um pedido. E isso não tem nada a ver com análise (e síntese) de negócios.

Comprometimento

Que graça tem o trabalho que se encerra nas preliminares? E quão eficaz pode ser uma documentação – por bons modelos que contenha – se desacompanhada de seu autor? O papel ou qualquer meio mais moderno, digital, não consegue capturar todo o conhecimento adquirido e desenvolvido por um analista. É triste insistir nisso até hoje. Mas o analista só prova seu valor quando participa de cabo a rabo de qualquer iniciativa ou projeto. Sua disponibilidade para quem está criando a solução significa conhecimento transferido em tempo real via banda larga. Sua participação nos testes significa qualidade. E quem melhor do que ele para preparar o ambiente que receberá as mudanças? Enfim, o analista termina o que começou. Mais que isso: se compromete com a qualidade da entrega. Ciente de que cada entrega causa novos desarranjos e mais oportunidades de aprendizado e melhoria.

Conta de Mentiroso

Aqui no interior de Minas se diz que 7 é conta de mentiroso. Por isso preciso citar uma oitava habilidade essencial: o analista de negócios gosta de gente. Ele é um animal social e incorpora todas aquelas qualidades que costumamos chamar de “habilidades sociais”. Ficou por último mas, dentre todas listadas acima, esta é a habilidade mais importante que um analista de negócios precisa mostrar. Gostar de gente é seu ponto de partida.

Há exatos 7 anos o FAN era lançado. Muita coisa mudou desde então. Menos a essência da Análise de Negócios. Este artigo é uma pequena comemoração.

Notas

  1. Só utilizei o termo focada porque a intenção era ilustrar algo ridículo. Metacrítica?
  2. Mas, se você quiser ou precisar, inclua aqui ética, honestidade e outras questões morais.
  3. Exercício proposto por Penny Pullan e Vanessa Randle em Business Analysis and Leadership (Kogan Page, 2013).
  4. Seven about to happen three different ways, de John Watson, ilustra este artigo.