Editado por Penny Pullan e James Archer.
Kogan Page, 2013.

Há tempo os analistas de negócios merecem um livro como este. Um texto que os define através de diversas experiências práticas. E um guia que orienta de fato seu desenvolvimento profissional. O trabalho dos dois editores não foi nada trivial. O livro compila 26 artigos de 25 autores. Coletâneas deste tipo costumam sofrer com redundâncias ou viagens nada a ver. Definitivamente, não é o caso aqui.

São quatro partes: Autoliderança, Liderança em Projetos, Liderança na Organização e Liderança no Mundo todo. A ênfase em liderança é facilmente explicada. Nada a ver com uma posição hierárquica ou qualquer outra confusão parecida. O analista de negócios lidera ao influenciar pessoas e decisões. E ele deve começar liderando a si mesmo.

Parte I – Autoliderança

Na primeira parte merecem destaque os artigos de James Archer e Kate Stuart-Cox, “Habilidades para a Análise de Negócios”, e de John Niland, “A Coragem de Perguntar”. Cada parte mereceu uma introdução e um fechamento através de um artigo de opinião. Joseph da Silva, que preside o capítulo do Reino Unido do IIBA, encerra a seção com um belo tapa na cara: “Tá Esperando ser Ungido?(Are You Waiting to be Anointed?)

Em suas (britânicas) palavras, Joseph diz que os analistas devem parar de reclamar e começar a mostrar serviço, sendo flexíveis em relação a todas as restrições existentes. Segundo ele, “os analistas não fazem barulho suficiente”, o que impediria o reconhecimento de sua privilegiada visão “independente e desafiadora”. AN’s deveriam começar a provar seu valor fora da função, fora de projetos e… fora de TI¹.

Parte II – Liderança em Projetos

Mas o que seria da gente sem projetos? Por isso a segunda parte trata deles. E começa mostrando a convivência de AN’s com gerentes de projetos em artigo de Suzanne Robertson. Suzanne é co-autora de livros sobre requisitos² e do modelo de conhecimentos Volere. O modelo é destacado neste artigo para ilustrar conhecimentos específicos e compartilhados entre AN’s e GP’s.

James Robertson, que escreve com Suzanne, participa com “Descobrindo A Essência do Problema”. O “Pensamento Visual para a Análise de Negócios” é um dos artigos da co-editora Penny Pullan, este escrito a quatro mãos com Vanessa Rondle. Se depois desta leitura alguém não se convencer da necessidade e utilidade dos modelos, é caso perdido. “Lidando com Partes Encrenqueiras” (“… difficult stakeholders”)³, de Michael Brown, apresenta sugestões bem práticas para lidar com casos perdidos.

Também merecem destaque os capítulos “Análise de Negócios, Liderança e Agile”, de Chris Matts e Kent J. McDonald, e “Lidando com Incertezas”, de Ruth Murray-Webster e Penny Pullan. O primeiro por ser meio fraquinho. O segundo por atribuir aos AN’s parte da responsabilidade pelo gerenciamento de riscos – uma provocação e tanto. Bem fundamentada, diga-se de passagem.

Parte III – Liderança na Organização

Talvez esta seja a parte mais forte do livro. Em “Contexto, Clima e Cultura”, Andy Wilkins e Kate Stuart-Cox ilustram muito bem as raízes da cultura organizacional e como ela gera galhos, ramos e flores. Uma árvore ilustra o conceito. Emma Langhan dá um show ao escrever sobre o “Pensamento Sistêmico para Analistas de Negócios”. São raros os resumos tão bem feitos. Ackoff, Beer, Senge, Weinberg, Snowden – os papas são quase todos citados. Assim como CW Churchman, que nos lembra de que “não há experts em pensamento sistêmico”.

Lidando com Poder e Política”, de Sarah Coleman, e “Pensamento Estratégico para Analistas de Negócios”, de Dav Bisessar, confirmam a abrangência e criticidade desta parte.

Parte IV – Liderança no Mundo Todo

Kevin Brennan, VP do IIBA que esteve conosco no último BA Brazil, escreveu “A Análise de Negócios é uma Função de Liderança”. Nick de Voil, diretor do IIBA-UK, contribuiu com o tema “Profissionalização e Melhores Práticas”. É, de certa forma, um bom contraponto ou complemento ao artigo do Kevin. Porque pede que o Guia BABoK seja visto assim, só como um Guia – longe de representar o corpo de conhecimentos da área. “Ele é um mapa, não o território.”

Nick mostra que a Análise de Negócios é um processo de aprendizagem. O que não combina com nada que fique “congelado” no tempo. É outro autor que cita o Cynefin de David Snowden para balizar algumas de suas sugestões. Curiosidade: Entre todos os 26 artigos, apenas esses dois citam o BABoK.

Conclusão

Desconheço outro livro da área que seja tão abrangente. Claro, o preço pago é de certa falta de profundidade. Mas não faltam referências e dicas de leitura ao término de cada capítulo. Se os analistas de negócios esperavam por um livro pra chamar de seu, a espera acabou. Que venha logo a versão em pt-br.

Serviço

Notas

    1. A gente já conversou um pouco sobre isso, lembra?
    2. Requirements-Led Project Management” (Addison-Wesley, 2005) e “Mastering the Requirements Process” (3ª edição – Addison-Wesley, 2012) são dois trabalhos da dupla Suzanne e James Robertson que merecem espaço na biblioteca do AN. O citado modelo Volere é apresentado com mais detalhes neste site.
    3. Minhas traduções são sempre livres, mais ou menos tendenciosas e ocasionalmente falhas. Espero que isso não a(o) aborreça. Neste caso específico, minha intenção era lembrá-la(o) deste artigo.
    4. O rabisco utilizado acima (sem permissão) foi elaborado por Penny Pullan durante um dos eventos de divulgação do livro.