Aconteceu na última semana, em Porto Alegre, a 1ª Conferência Brasileira de Análise de Negócios – o BA Brazil 2011. Transcrevo neste artigo minhas experiências e considerações sobre o evento. E trago para cá conversas e provocações que, acredito, merecem reflexões e debates.

Se fosse preciso resumir tudo em uma única palavra ela seria: Show! Show de organização. Show diversificado. Show com lotação praticamente esgotada. O BA Brazil provou a força da comunidade e como o trabalho voluntário move e remove montanhas. Se alguém ainda tem dúvidas sobre a combinação dos termos “planejamento” e “métodos ágeis” ou sobre a utilização dos últimos fora da seara do desenvolvimento de sistemas é porque não viu o BA Brazil. Créditos para o time do IIBA e todos os parceiros que ajudaram a viabilizar o evento. Evito citar nomes para não cometer nenhuma injustiça. Todos estão de parabéns.

Infelizmente, por problemas de agenda, não pude ver praticamente nada dos dois dias de palestras e espaços abertos. Mas tive tempo suficiente para rever amigos de Brasília, Floripa, Sampa e Rio. E, claro, pude assistir a palestra de abertura ministrada por Shane Hastie. Shane explicou “porque precisamos de Análise em Projetos Ágeis”. Você acha estranho que esse tipo de “explicação” ainda seja necessária? Eu achava. Mas a conversa do Shane foge do lugar comum. E mira dois alvos: também fala sobre métodos ágeis para analistas de negócios. Seu discurso é sereno, objetivo e bem ilustrado. Seria impossível e injusto destacar algum ponto. Prefiro resumir assim: eu queria que mais executivos e agilistas tivessem a oportunidade de ouvir e conversar com Shane. Só isso.

Eu tive essa oportunidade, em cafés, viagens de táxi e jantares. E as primeiras coisas que você nota em Shane, além do profundo conhecimento dos temas que aborda, são sua humildade e generosidade. Em questão de pouquíssimas horas “viajávamos” pelas necessárias revisões do BABoK®, a sentida ausência dos casos de uso no draft da extensão ágil¹, a corrupção no Brasil (e suas similaridades com a África do Sul, país onde Shane morou por alguns anos), a beleza das mulheres de Porto Alegre, churrasco, caipirinhas (with two you get to the limit of liability!) e nossas experiências profissionais. Não necessariamente nessa ordem.

Em outro dia, quando compartilhávamos a mesa com Suzandeise Thomé, Luiz Parzianello, Marcelo Neves e Willen Dijkgraaf, chamei a atenção para a forma como Shane destacava sua não concordância com algum tema. Por exemplo: “Arquitetura Corporativa”. Shane desacelera e calibra a dicção, frequentemente soltando um “fundamentally wrrrrrong!”.  Aquele “Wrrrrrong” soa como um trovão. E não deixa a menor dúvida sobre sua posição. O que não significa que a conversa tenha se encerrado, pelo contrário. Está apenas começando!

Acompanhei de longe a repercussão do restante do evento. Pelos comentários a única conclusão possível é de um retumbante sucesso. E a certeza de que a versão 2012 é só questão de tempo. Que assim seja!

Reflexões

Minha palestra aconteceu logo na sequência, ainda na manhã da quinta-feira. Falar logo após a abertura do Shane já era uma responsabilidade e tanto. De carona no presente-provocação sugerido pelo Luiz Parzianello, uma responsabilidade quase insuportável. Quando me convidou, Parzianello sugeriu o título de minha fala: “Para você, o que é Análise de Negócios?

Abri o papo confessando a dificuldade em condensar em quarenta e cinco minutos uma resposta que, a primeira vista, deveria ser muito simples e direta. Mostrei que apelei para um oráculo (Bob Dylan?!?) e para o pai dos burros (Houaiss) em uma busca infrutífera por inspiração. Quem leu meu artigo anterior já conhece o final da história. Meu problema não era definir a Análise de Negócios mas sim justificar a definição. E não havia mais nenhuma razão para manter implícitas ou autocensuradas duas provocações:

  1. Há, no meu ponto de vista, exagerada e arriscada ênfase na macrodisciplina  “Análise de Negócios” em detrimento de seus praticantes principais, os Analistas. Algo como: “o importante é que a Análise seja feita, não importa por quem”. Concordo que a área não carece de muros ou testes como aqueles que vemos em Direito, Medicina, Engenharia e afins. Por outro lado, se não existirem profissionais especializados e orgulhosos de sua área, como podem a disciplina e respectivo corpo de conhecimentos evoluir? Não é de hoje que é notória a baixa autoestima dos Analistas de Negócios, particularmente dos tupiniquins. Existem razões mil para tanto – sendo a principal a confusão com “tiradores de pedidos²”. Mas não melhoramos a situação com o discurso vigente. Em suma: se queremos uma Análise de Negócios forte e reconhecida precisamos fortalecer e reconhecer os Analistas de Negócios. Eles não são nada menos que fundamentais para o futuro da disciplina.
  2. Não estava escrito em nenhum slide que utilizei mas acho que falei mais ou menos assim: “Se tivermos legítima preocupação com a Análise de Negócios em médio e longo prazos, então é hora de decretar sua independência de TI“. Reconheci que devemos ser eternamente gratos pelo fato de TI ter ressuscitado e viabilizado a área. Mas é chegada a hora de debater se queremos ou podemos limitar o uso da disciplina exclusivamente em problemas de negócios que envolvam Tecnologia da Informação. Apresento novamente mea culpa. Tenho vinte e cinco anos de vida profissional e sempre trabalhei com TI. Meu trabalho se limita a TI. Mas meu trabalho é só um grãozinho de areia, sem falsa modéstia. Quero crer que o público presente, pelas questões apresentadas, entendeu bem o recado. Até quando sugeriu, para minha concordância, que o Analista de Negócios é o Novo Novo Analista de Organização & Métodos.

Testando o {FAN}

Se o {FAN} 2012 precisava ser puxado até o limite, ele conseguiu em PoA. Foram duas turmas, uma delas não programada originalmente. E entre os quase setenta participantes uma diversidade grande, muita sede, muitas dúvidas e bastante colaboração. Ligeiras conclusões:

  • O programa está perigosamente no limite de sua carga horária. Já penso seriamente em uma versão com 20 horas distribuídas em três ou cinco dias. Na próxima semana, em turma fechada e com 24 horas ao meu dispor, farei novo teste.
  • Algumas atividades podem “sujar” mais paredes. A turma via o curso do Shane ao lado e gostava de todos aqueles displays.
  • Aliás, posso contemplar em algumas turmas o trabalho de derivação de casos de uso em histórias e tarefas. E tornar a montagem de diagramas PUCS uma atividade mais interativa, fazendo toda  a sala montar um único diagrama.
  • Preciso rever o último sprint, que acontece logo após um coffee-break. É um tour-de-force com cerca de duas horas de duração e sem nenhuma interrupção – nenhuma atividade prática. É uma longa história que conto, mostrando como os analistas de negócios trabalham em conjunto com o time de desenvolvimento em busca de uma solução. É legal – acho que todos gostam. Mas chego ali estourado, com voz e pernas extenuados. Ok, preciso melhorar minha condição física. Mas acho que é possível quebrar aquela história de forma a torná-la menos cansativa.

Tks!

Suzandeise Thomé, Luiz Parzianello e Marcelo Neves, pelo voto de confiança e pela oportunidade. Oferecer tão generoso espaço para um chato e crítico frequente do IIBA é prova incontestável da maturidade e do espírito democrático dos Chapters brasileiros. Vocês sabem, seguirei chato e crítico. Mas seguirei também um fã incondicional do trabalho de vocês. Parabéns!

Thank you, Mr. Shane Hastie, for your generosity, the shared knowledge and the patience with my bumbling english. 

Simone Kosmalski, pela hospitalidade, atenção e organização.

Melissa Trevisan e Marta Py, pelo trabalho, força e confiança.

Willem Dijkgraaf, pelo apoio e pelo feedback.

E muito obrigado a todos que tornaram o BA Brazil 2011 possível.

Observações:

  1. Shane justificou a ausência (de casos de uso na extensão ágil do BABoK®) dizendo que a técnica já está devidamente coberta no BABoK® 2.0. Mas alertei, a ele e ao Parzianello (que também trabalha naquela extensão), que talvez o texto esteja passando a impressão (equivocada) de que no mundo ágil só se trabalha com histórias de usuários. Prometi ser mais específico na leitura crítica que publicarei antes para eles e depois aqui no {finito}.
  2. Perdi a oportunidade de fazer um teste de DNA e tirar dúvidas sobre a paternidade do termo “tirador de pedidos”. Mas aproveito para registrar aqui outra coisa que o Analista de Negócios NÃO é: “traficante de picuinhas!” Qualquer dia compilo todos os “criativos” termos criados para desmerecer e desmotivar o mau uso da profissão.