Como pode uma pequena unidade organizacional apresentar uma estrutura idêntica àquela que caracteriza toda a organização? Fractais são assim. Uma empresa pode ser? E o que ela ganharia com isso? É o que este artigo tenta responder.

Lá em cima há a cabeça, o cérebro. Uma parte dele representa Identidade e Propósito – o que somos e o que viemos fazer aqui. Vale para uma pessoa, um time, uma unidade organizacional ou para uma organização como um todo. Esse é o Sistema 5.

Na sequência temos a Inteligência – conjunto de habilidades que permite mudar a nós mesmos, nossos processos, estrutura, identidade e até o ambiente onde vivemos. Observamos o ambiente e avaliamos riscos. Analisamos alternativas e fazemos escolhas. Implementamos mudanças. Tudo por conta da Inteligência, o Sistema 4.

No dia a dia temos nossas responsabilidades – precisamos cumprir nosso propósito. Gerenciamos os recursos disponíveis e nossa performance. Gerenciamos, acima de tudo, o balanceamento entre recursos e performance. Se a Inteligência trata do “lá fora, no futuro”, neste sistema cuidamos do “aqui e agora”. Ele é o Sistema 3, Controle.

Quando algo sai do Controle é necessário algum tipo de auditoria e Monitoramento. Todos os nossos indicadores possuem uma faixa ideal de flutuação – limites mínimo e máximo. Como a temperatura de nosso corpo ou as metas de inflação, por exemplo. O Monitoramento é o Sistema 3*. Ele é ocasional, esporádico, daí o asterisco.

Diversas operações ocorrem simultaneamente em um sistema-corpo-organização. Andamos, respiramos, ouvimos, observamos e manipulamos algo enquanto o pulso ainda pulsa. Uma série de mecanismos (padrões, protocolos, linguagem etc) garantem que as operações aconteçam de forma coordenada. Coordenação é o nome do Sistema 2. Quando ele falha temos palpitações, pressão baixa e outros males. Em uma organização a falha na coordenação é percebida na forma de gargalos em processos, guerras entre departamentos, clientes insatisfeitos etc.

O Sistema 1 representa as Operações. É aqui que uma empresa ou unidade organizacional cria e distribui valor (riqueza). O sistema operacional contempla todos os processos primários de uma empresa. Além das atividades de apoio, claro.

Uma empresa como um todo apresenta os 5 sistemas descritos acima. Queira ou não. A provocação é imaginar cada unidade organizacional, por menor que seja, apresentando os mesmos sistemas. Assim como a mais inútil célula carrega uma cópia idêntica de nosso DNA.

VSM – Viable System Model

O resumo acima, escrito no limite da irresponsabilidade, é uma apresentação do Modelo de Sistema Viável. Modelo proposto originalmente por Stafford Beer em Brain of the Firm (Beer Allen Lane, 1972). Ele se baseia “no maior sistema complexo de controle que se conhece – o sistema nervoso humano”¹. Sua justificativa é direta: “um sistema é viável quando consegue sobreviver de forma autônoma em qualquer tipo de ambiente”. Se um sistema é viável, então todos os seus subsistemas são viáveis.

Impossível não relacionar a última frase acima com a provocação apresentada no artigo anterior, sobre a implantação de uma economia de mercado interna. Aquela ideia é de de Russell Ackoff. O VSM é quase contemporâneo, mas veio de outro berço. Por serem bastante complementares, é de se perguntar porque não aparecem juntos. Mas, caramba, eles quase não aparecem!

Patrick Hoverstadt, em The Fractal Organization (Wiley, 2009), coloca o VSM em um contexto atualizado. Comprova a longevidade e robustez das sugestões de Beer. Os conceitos de autossimilaridade (o DNA que se copia), autonomia e controle são complementos naturais e necessários para A Empresa Conectada de Dave Gray (O’Reilly/Novatec, 2013).

Hoverstadt fala em 4 drivers de complexidade determinando divisões no sistema operacional (1): tecnologia, geografia, clientes e tempo. Ackoff, por um bom motivo², só ignorou o último. O Tempo, você deve se lembrar, foi o estopim desse papo. Tá na hora de ligar os pontos. Só que não. Fica para daqui a duas semanas³. Inté!

Notas

  1. Modelo de Sistema Viável (VSM), artigo de Antonio Benedito Guirro e Hermes Moretti Ribeiro da Silva publicado em Teoria Geral dos Sistemas (Saraiva, 2012).
  2. E se parássemos com a mania de lidar arbitrariamente com o tempo, com o futuro? Nossa vida ficaria um tanto mais simples, aposta Ackoff. Mais sobre isso nos próximos capítulos.
  3. Férias? Só se for pra ti. É o excesso de trampo que forçará uma interrupção temporária da série. Me desculpe.
  4. Fractal Mosaic é o nome da bela imagem que ilustra o artigo. O artista é QThomas Bower.
  5. E por falar em imagem, por que não apresentei o clássico desenho do VSM? Para não assustá-la(o).
  6. Uma promessa feita no primeiro parágrafo não será paga na última nota. Fica pra ti: o que uma empresa ganha com o desenho fractal?