O Moreira, ciente de sua ignorância sobre sistemas, projetos e afins, decidiu desde o primeiro momento que não acompanharia o desenvolvimento de sua ferramenta para ‘aumotação da força de vendas’. Passou a responsabilidade para seu sobrinho – é da família e é de confiança, o herdeiro que ele não conseguiu fazer por conta própria; E para o contador – funcionário fiel desde o dia da fundação da empresa. Os dois já fizeram vários “cursos de informática” (dois de 40 horas, para falar a verdade) e eram os únicos com autorização para mexer no micro da empresa. O sobrinho atendia solicitações que chegavam por email e mantinha o site de duas páginas da empresa. O contador controlava o livro-caixa, fechava a contabilidade e fazia a declaração de imposto de renda de todo mundo. Até dos vizinhos.
Os dois receberam os primeiros módulos do sistema – para manutenção de cadastros (CRUD para os letrados), um mês após o prazo combinado. Gerente do projeto e um dos desenvolvedores fizeram a entrega. O gerente marcava a página de sua agenda com a fatura do mês. A anterior foi paga, apesar do atraso. Convenceram sobrinho e contador e depois o ‘seu’ Moreira com um pacotinho de modelos e um gráfico GANTT, o cronograma. Agora não tinha jeito. Ou eles viam alguma coisa do sistema ou “nem um centavo” sairia dali, como disse o Moreira. Cinco módulos de cadastros foram instalados no único micro da empresa. “Passa da hora de vocês comprarem o servidor e uma estação de trabalho, hem?”, pediu o gerente. O sobrinho disse que as cotações já haviam sido feitas e que o seu tio apenas esperava a real necessidade antes de fazer o desembolso. “E os micros para os vendedores, vocês já decidiram qual será?”. O contador falou que avaliavam três alternativas, mas não deixou a conversa prosseguir. Queria ver a entrega.
Foram quatro horas de entrega e treinamento, duas além do previsto pelo gerente. Quando ele viu que a coisa ia se prolongar, ligou para o dentista e desmarcou a consulta, apesar da urgência: “Tem duas semanas que esse ciso não me deixa comer nem dormir direito”. Mas ele nem cogitou deixar o desenvolvedor fazendo a entrega sozinho depois que reparou que ele não era muito paciente nem muito bom com as palavras faladas. Gerenciou bem o risco. Até porque o ‘seu’ Moreira invadia a sala a cada meia hora: “e aí, novidades?”
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Enquanto isso, entre uma discussão ou outra envolvendo MySQL, noSQL, ShitQL e coisas assim, a equipe tentava trabalhar. Todo dia tinha uma briga com o DBA, que não conseguia fazer valer o seu modelo. “Mas ele já foi homologado pelo cliente!”, gritava, arrancando gargalhadas. “Cara, o cliente não sabe nem o que é um banco de dados”, tentava explicar um desenvolvedor. O “clima ruim” contaminava até as “happy hours” que aconteciam de terça a sexta. Numa delas, quando parecia inevitável que o arranca-rabo descambaria para as vias de fato, o analista de negócios pediu demissão. “Ninguém merece”, choramingou. Na época ele já trabalhava por meio período no projeto do ‘seu’ Moreira. No restante do tempo ajudava os vendedores em atividades de pré-vendas. Sua decisão realmente não era reflexo dos 11 chopps, como torceu o gerente do projeto. Só voltou na empresa 10 dias depois, para fazer o acerto. Relutante, aceitou uma conversa de hora e meia com o desenvolvedor mais novo e o gerente para passar aquilo que não estava documentado.
O gerente ouviu cético a promessa de que um novo analista seria contratado “asap”. Já aceitava, experiente que era, que teria que levantar ele mesmo os requisitos dos módulos de Mapa de Carga, Estoques e Vendas. Não sabia o que lhe doía mais, se as novas responsabilidades ou o dente de ciso.
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Minha intenção original era casar o fim do causo do ‘seu’ Moreira com a estreia dos dois “Jogos dos 7 Erros”. Infelizmente, como vocês podem ver na agenda ali em cima, os eventos foram adiados para 16 e 17 de abril. O lado bom da história: vou poder trabalhar o causo com mais calma (e mais artigos).
Preciso dizer que esta história específica, por ser antecipada aqui, não aparecerá mais nos “jogos”. Como tenho um bom estoque de causos, isso não é problema. Outra coisa importante a ser dita é que o exercício aqui proposto é diferente daqueles (7) que fazem parte do novo evento porque é aberto demais. Lá existirão temas, erros específicos. A história do ‘seu’ Moreira está repleta de enganos. Abaixo dos óbvios, que tem fins meramente ilustrativos e provocativos, existem aqueles que realmente desafiam analistas de negócios, gerentes e demais integrantes de uma equipe de desenvolvimento. Você consegue apontá-los? Alguns colegas participam da “oficina virtual” nesta thread do grupo AN.br. Caso interesse, entre. A casa é sua.