Breve interrupção na série sobre Arquitetura de Negócios. O motivo é um desabafo recorrente: cadê os analistas de sistemas?

Vira e mexe, em algum telejornal, tem um analista de sistemas dando suas opiniões sobre  trânsito, clima, política ou pastel de feira. Eles são onipresentes. Na TV. Parece que o mesmo não pode ser dito em muitas organizações.

Nos últimos tempos, em contato com empresas dos mais diversos ramos e portes, me deparei com o mesmo problema: a Análise de Sistemas sumiu! Alguém com o boné “analista de negócios” se vira para desenvolver um conjunto disforme de entregáveis (sic). Essa geléia vai direto para o colo de programadores que, sem alternativas, se viram. Ir de uma especificação de caso de uso direto para o código é como ir do porco para o prato de feijoada sem passar pelo fogão.

Talvez eu esteja deveras obsoleto (e o uso de “deveras” é prova inconteste disso). Afinal, muitos nem saltam mais de casos de uso para o código. Pulos modernos partem de user stories. Em ambientes sofisticados, estórias devidamente acompanhadas por protótipos low-fi. Coisa fina.

Nada disso importaria se eu não me deparasse, em irritante frequência, com duas questões: 1) Os desenvolvedores “pastam” para decifrar o que precisa ser feito; 2) A manutenção de sistemas parece um jogo de enigmas sem fim.

O super-entregável que cumpre o papel de matéria-prima para os desenvolvedores é obrigado a assumir responsabilidades demais. Quem disse que casos de uso ou estórias devem responder questões técnicas? Onde está escrito que esses artefatos devem entrar em minúcias de APIs, SPs e tabelas de um banco de dados? E desde quando a aproximação entre desenvolvedores e clientes/usuários torna o “pensar e desenhar soluções” (aka Análise de Sistemas) algo supérfluo?

A UML, que nasceu há quase vinte anos, tinha uma resposta para a documentação de sistemas. E essa resposta nunca se limitou a dois ou três diagramas rabiscados em momentos iniciais de um projeto. Mas ela morreu ou está moribunda. Dizem por aí que colocaram DSLs em seu lugar. Luxo de pouquíssimos. Um ou outro, um pouco mais esperto, não reinventou a roda: desenvolveu sua linguagem específica a partir da UML. Alguém viu algo do tipo por aqui?

Porque não vi em em lugar nenhum. O que vi, isso sim, foi um monte de sistemas com manutenção caríssima. E um tanto de desenvolvedores-caçadores-da-rastreabilidade-perdida.

Encontrar culpados? Pura perda de tempo. Lancemos mão de nosso senso de oportunidade: com vocês o programa FAS – Formação de Analistas de Sistemas. É baratinho e rápido, saca só:

  1. Compre (e LEIA) “Utilizando UML e Padrões”, de Craig Larman (Bookman, 2007).
    Obs. A) Se em algum canto de seu HD encontra-se solitário e perdido um tal de EA (Enterprise Architect), talvez você prefira o livro “UML 2.0 – Do Requisito à Solução”, de Adilson da Silva Lima (Érica, 2008).
    Obs. B) Se você ficar com medo de alguém lhe acusar de não ser “ágil”, então leia também “Modelagem Ágil – Práticas Eficazes para a Programação eXtrema e o Processo Unificado” de Scott  W. Ambler (Bookman, 2004). Apenas evite o capítulo 24 e suas (seis) generosas páginas dedicadas à “Modelagem Ágil de Negócios”. Deixe esse papo para os Analistas de Negócios.
  2. Aplique, Inspecione, Adapte e dissemine o que aprendeu.

E quando alguém disser que você está obsoleto apenas responda: “O que posso fazer, sou um Analista de Sistemas”.

Antes que alguém estrebuche: não estou diminuindo a Análise de Sistemas nem dizendo que a leitura de dois ou três livros substitui quatro anos na cadeira da escola. A sugestão acima apenas pretende sanar uma parte dos probleminhas correntes em algumas organizações.

A verdadeira Análise de Sistemas vai muito além do escopo ali proposto. E tem em sua base o estudo, dentre outras, de: Teoria da Informação, Teoria Geral dos Sistemas, Cibernética, Sistemas Dinâmicos, Sistemas Adaptativos Complexos, Pensamento Sistêmico, Teoria da Evolução, Teoria dos Jogos… Ops! De qual Analista de Sistemas estamos falando?

Notas

  1. Where’s Wally…, a foto utilizada, é de William Murphy.
  2. Prometo não voltar ao tema. Até o ano que vem. Ou até encontrar Wally…