O estranho e enigmático desenho apresentado ontem é produto de uma longa história. É curioso como algumas ideias grudam na cuca sem razão aparente. A ideia daquele diagrama me esbofeteou por meses. “Tem alguma coisa aqui, ô seis vort!¹”, ela parecia dizer. Tinha. E era grande.Rabiscos e ensaios foram jogados aqui e ali, na esperança de conseguir algum feedback que orientasse a confecção de um diagrama. Cheguei a levar uma versão impressa para a sala de aula. Todos gostavam, menos eu. Também joguei o rabisco em um artigo, apêndice esquisito de uma série não encerrada (ainda). Pouco me ajudou a tratar, embalar a ideia de forma que ela deixasse de me incomodar. Virou obsessão.No final do ano passado mergulhei no excelente The Functional Art, de Alberto Cairo (New Riders, 2013). Até então acreditava que o destino da ideia era virar um infográfico. Por isso abusei da boa vontade do Cairo, que trabalhou aqui no Brasil – na revista Época. Ele disse, em email, “o que você tem pela frente é um grande desafio”. Era bem maior do que eu imaginava.

O infográfico poderia virar um índice. E os métodos, disciplinas, ferramentas e padrões citados ganhariam entradas em uma abrangente biblioteca virtual. Nada mal. Mas não era (só) isso. A ideia pedia por mais.Chegou dezembro, tempo de fazer a tradicional atualização do catálogo de cursos. Pensei que a nova tarefa fosse jogar a ideia-obsessão para o escanteio do subconsciente. Inocente. A ideia, batizada Mapa do Inferno, passou a gritar. Uma versão chique, no fantástico Kumu, a acalmaria? Nem por um segundo.

Você tentou navegar no mapa? Qual impressão ou sensação ele causou?

Aproveite bem o feriadão. Na próxima semana eu conto o fim da história. E o início de outra. Inté!

Notas

  1. “Seis vort” (seis volts) é uma maneira bem sulmineira e sutil (!) de dizer que alguém é lento, moroso, imbecil.
  2. Maybe these Maps and Legends have been misunderstood é o nome da imagem no topo. A foto é de Andrew Partain. A inspiração, dele e minha, vem de uma bela música do REM, Maps and Legends (Fables of Reconstruction, 1985).