Falta pouco mais de uma semana para o encerramento da campanha de financiamento coletivo do flit. Deve ser um tremendo fracasso. A distância da meta interessa menos, apesar de doída. É a pobreza de informações, do tal fidbeque¹, que me espanta e trava. Compartilho a experiência na esperança de merecer algumas dicas.

Mordomos Abundam

A crise tá feia; o produto é radical demais; o povo não entendeu; a divulgação foi miserável; o povo não curte muito essa coisa de financiamento coletivo; você não vai tirar ninguém de sua zona de conforto com uma oferta tão abstrata… São suposições que não ouvi de ninguém. Sim, eu implorei por avaliações em mensagens individuais e através da newsletter. Bobinho: ninguém lhe dará nacos de seu recurso mais valioso (i.e. TEMPO) só porque você pediu. Ainda mais da forma como pediu!

Para não ser totalmente injusto, devo dizer que recebi uma dúzia de respostas. Metade bastante positiva, do tipo “o mercado precisa de provocações assim”; “você não sossega nunca”; “acredito na ideia… acredito em você”. Joia. Mas fidbeques positivos geralmente trazem mais motivação do que informação. E todo produto/serviço novo clama, implora por informação.

Informação

J., de São Paulo, disse que não entendeu o que ganharia com o flit: “Falar em se tornar um profissional mais completo é muito pouco.”

Há realmente muita ênfase no “como” em detrimento do “que” e “por que” – uma inversão esquisita. Assim como o destaque ao lado “sistêmico” do produto pode ter deixado em segundo plano aquele que deveria ser seu principal atrativo: a orientação ao trabalho a ser feito (JTBD – Jobs to Be Done).
(No próximo artigo vou mostrar como e por que esse desenho tem um impacto definitivo no futuro das profissões. De TODAS as profissões.)

Essa quebra por tarefas é a minha aposta para facilitar o ensino do Pensamento Sistêmico. Ele é raiz (como ilustra um dos slides), mas não é a motivação central do produto. E qual seria essa motivação, hesitante escriba?

Oras, que o assinante do flit 1) domine um GRANDE número de habilidades; abrindo caminho para que ele 2) seja capaz de assumir e executar um GRANDE número de trabalhos (tarefas). Por fim, mas não menos importante, está o aspecto qualitativo. Mais que resolver problemas e apagar incêndios, o assinante aprenderá a 3) desenhar soluções que passem no teste mais importante: o teste do tempo.

O que me trouxe ao flit

Vale a pena enumerar os problemas e questões que me inspiraram a desenhar o flit:

  • “Aqui na empresa não vou conseguir aplicar isso”
  • “O Gerente de Projetos falou que isso não é responsabilidade minha”
  • “Analista de negócios também faz isso???”
  • “O programador falou que eu não preciso me preocupar com isso”
  • “O professor afirmou que isso é perda de tempo”
  • “O gritou que isso não funciona, tá ultrapassado etc”

Empresas, escolas, metodologias e gurus estão limitando sua evolução profissional de uma maneira um tanto irracional e autocrática. Quão fiéis eles são a você? Por que eles mereceriam tanta obediência e conformismo? Afinal, por que sua carreira precisa ficar presa em caixinhas de disciplinas, corpos de conhecimentos, metodologias etc?

Eu sei que “fora das caixas” é um clichezinho pra lá de gasto. Mas é a melhor e mais simples mensagem que o flit pode lhe passar: livre-se das caixas e dos silos! Torne-se um profissional mais completo e, consequentemente, mais livre, valorizado e satisfeito. Não por causa de uma série de coisinhas frufru que estão na moda. Mas porque você ataca diretamente a principal causa da ansiedade dos tempos modernos: a falta de conhecimentos e habilidades para lidar com problemas (complexos, complicados etc).

O Tamanho da Coisa

L., também de São Paulo, manifestou preocupação com a abrangência do flit. A metáfora do seriado abriu passagem para um temor legítimo: “e se for como aquelas séries arrastadas e confusas, com muitas tramas que não fecham?”

Saca “Law & Order”, série onde invariavelmente cada episódio tem início e fim? O flit foi pensado assim. Claro, existem personagens cuja evolução ocorre através de diversas temporadas. Mas os episódios abrem e fecham uma questão. Podem ser assistidos de forma aleatória sem comprometer o entendimento.

Ainda sobre o tamanho da Coisa, J. foi um pouco mais longe: “o flit vai exigir dedicação de uma pós.” Puxa, onde errei? É exatamente o contrário. Os episódios (com 15’ no máximo) serão liberados a cada 15 dias. Seu estudo não deve demandar mais do que duas horas por quinzena. Claro, quem quiser mergulhar e praticar vai gastar mais tempo. Mas por sua conta e, principalmente, interesse. O flit não exigirá nada. Cada assinante faz seu tempo e ritmo.

O Formato da Coisa

D., outra paulistana, pegou pesado: “o vídeo é horrível. Se as aulas forem assim, não terei a mínima vontade de assistir.”

Não adianta falar que segui todas as dicas de Salman Khan, que tentei tirar o máximo do Powerpoint e que meu vozeirão é bonitinho. Confessei que estou aprendendo a falar SEM público. Meu “punch”, como disse F., é outro quando tenho uma plateia. Conteúdo tão quente merece formato idem. Mas é importante destacar que as videoaulas são apenas uma parte do flit. A menor delas! Mas, claro, estou me esforçando para melhorar, para tornar os vídeos mais dinâmicos e interessantes.

Meu Domínio sobre a Coisa

L. questionou, sem firulas, meu domínio sobre terreno tão vasto. Tenho 30 anos de vida profissional. Já fui desenvolvedor, analista, gerente, sócio, faz-tudo e aspone. São 30 anos de experiências, o que é muito diferente de 30 anos da mesma experiência. Minha paixão pelo Pensamento Sistêmico também é antiga, tem uns 20 anos. Não a destaco como uma especialidade porque seria uma mentira. Ninguém é especialista nisso. E se não trabalhei o tema aqui de forma específica é porque não tinha uma boa desculpa para isso. Mas, se você olhar direito, vai notar a raiz. Seja tratando de Análise de Negócios, requisitos, Scrum ou de Arquitetura de Negócios. Enfim…

Sei que a maneira mais eficaz de aprender é ensinando. O flit não tem a presunção de ser um corpo de conhecimentos. Ele é um corpo ou programa de ESTUDOS. Ou seja, traz embutida (by design – por querer) a humildade necessária em tempos bicudos e complexos: “isso eu não sei, vamos descobrir?”

Um Público para a Coisa

L., generosa como ela só, também questionou qual seria o público alvo do flit e se ele seria voltado para iniciantes ou iniciados. “Fora das caixas” deveria dizer tudo. Seria muito incoerente apontar o flit apenas para algumas profissões/funções/papéis. Claro, ele é voltado para gente de negócios e sistemas. Mas nada impede a entrada de curiosos de outras áreas.

E quem é iniciado, especialista ou mestre? Não vivemos numa época em que tudo ou quase tudo parece estar errado? Então, por que não aprender como se estivéssemos começando do zero? O flit só não é um reset porque sua experiência conta muito. Mas ele o convidará a rever muitos conceitos, hábitos e práticas. Ou seja, somos todos iniciantes.

A Longevidade da Coisa

O eventual fracasso na campanha de financiamento não matará o flit. Sou teimoso e não tenho pressa. O que tenho, agora, é uma fome danada por fidbeque. Se você sapeou  a proposta do flit, também teria um tempinho pra conversar comigo? Quais são suas dúvidas? Do que você gostou e não gostou? E o que o impede de virar um assinante? Seu fidbeque vale uma fortuna. Quanto ele custa?

Notas

  1. Não custa repetir: só vi fidbeque escrito assim em um livro, “Cibernética na Administração“, tradução maravilhosa de “Brain of the Firm”, de Stafford Beer. José Reis, o tradutor, deu uma aula. Coisa que não se vê mais nos dias de hoje. FIDBEQUE (retroalimentação) é mais que respostas, likes ou piscadinhas.
  2. Johnathon Livingston? é o título da foto. Disponibilizada no flickr pelo JJ.