Aconteceu na última sexta-feira (25/jan) o Stoos Connect, evento sediado em Amsterdam e transmitido para todo o mundo. Derivado do movimento Stoos, a reunião se propôs a debater liderança, gerenciamento e novas práticas, dentre outras coisas. Este artigo apresenta um breve resumo das conversas.

Todo evento muito longo – este durou cerca de oito horas, contando os intervalos – é cansativo. Se houvesse uma variação de formatos e maior participação da plateia talvez não fosse uma experiência tão extenuante. Confesso que abandonei o barco depois das 18h30 – depois de seis horas e meia de palestras. Algumas foram bem curtas, duraram cerca de cinco minutos. Outras, as melhores, tiveram cerca de vinte minutos de duração. A diversidade de temas ajudou a prender a atenção.

O que não significa que não tenha havido redundâncias. A ideia de que o gerenciamento tal qual é conhecido hoje está obsoleto foi recorrente. Começou com Jaap Peters, que foi lá na raiz: citou The Principles of Scientific Management de Frederick Taylor. Está neste trabalho uma colocação que de certa forma sintetiza TUDO o que se entende sobre negócios e gerenciamento (e a vida…) desde o início do século 20: “No passado, o homem foi o primeiro. No futuro, o sistema será o primeiro.

Gerenciamento *1911 †1970 -Niels Pflaeging
Quando você vê uma ênfase doentia em planejamento e processos está assistindo a realização da profecia de Taylor. Planos e processos são arquitetados para que alguém seja dispensado de utilizar a única coisa que o diferencia de um ornitorrinco: o cérebro. Ok, o ornitorrinco é um bicho diferentão. Mas você entendeu meu ponto. O que há de nefasto e hoje facilmente condenável na proposição de Taylor¹ e contemporâneos é a separação entre o pensar e o fazer, como destacou Niels Pflaeging em sua fala. Aliás, o título da palestra de Niels é uma provocação por si só: O Gerenciamento é Dispensável.

Quem acha que essa ideia só faz sentido em organizações com maduros trabalhadores do conhecimento precisa urgentemente conhecer O Que Importa Agora, de Gary Hamel (Campus, 2012). Aliás, Hamel foi a cereja que faltou ao bolo do Stoos Connect.

Daniel Pink, autor de O Cérebro do Futuro (Campus, 2007) dentre outros, reforçou a mensagem sobre gerenciamento com outras palavras. Gerenciamento é uma tecnologia. Como toda tecnologia, ele ficou obsoleto. Seria urgente, portanto, um “recall” das organizações.

Possíveis executores deste “recall” foram convidados – via Skype – por Peter Vander Auwera. Ele apresentou um grupo chamado Corporate Rebels United. Vale a pena dar uma olhada no manifesto.

Rolaram palestras com temas mais específicos, como Vendas Nobres (não seria um oxímoro?), por Lisa Earle McLeod e Cultura Corporativa (três erros comuns que as empresas cometem) por Dawna Jones. Dawna fez uma colocação que merecia mais tempo e melhores explicações: “Podemos utilizar os mesmos princípios da natureza para guiar um sistema-negócio”. Quais princípios? Todos? Tá falando sério?

Jurgen Appelo, autor de Management 3.0, não surpreendeu. Entrando na terceira parte do evento, não choveu no molhado. Optou por um tema bem específico: motivação e remuneração. Jurgen oferece um necessário contraponto à ideia de que a motivação intrínseca (de um trabalhador) bastaria: “Todos temos contas para pagar no final do mês”. Grana é importante. Bônus são importantes. E podem funcionar sim como motivadores. Mas é preciso saber fazer. Jurgen propõe um mecanismo simples, transparente e com bastante potencial. “Merit Money“, um artigo sobre o tema, será disponibilizado em breve.

Perdi a apresentação do Steve Denning, mas ele publicou um generoso resumo aqui.

Em suma, foi um evento legal. Eu esperava algo mais interativo e variado – não uma sequência muito longa e cansativa de palestras. Como o “diagnóstico” (do estado atual das coisas) é bem conhecido e a concordância com ele é o que leva uma pessoa para um evento desse tipo, era de se esperar mais propostas, mais ideias novas. Mas valeu a pena – valeu uma tarde de sexta.

Para quem ficou curioso, creio que as palestras logo serão disponibilizadas via Youtube ou algo assim. Você pode ter notícias através do site do evento ou no grupo no LinkedIn.

 

Notas

  1. Niels Pflaeging colocou que Taylor é herói e anti-herói do gerenciamento. No geral, Taylor tem sido apresentado como o grande culpado pelo estado atual das coisas no mundo dos negócios. É merecido? Por profecias como aquela citada neste artigo, poderia ser. Sinceramente, acho sua contribuição – seja para o bem ou para o mal – um tanto exagerada. Tamanho caos não pode ser produto do trabalho de apenas uma pessoa.