No artigo anterior demos o primeiro passo em nosso estudo sobre planejamento, Formulando a Bagunça. O principal objetivo da formulação foi entender o que pode destruir uma organização. A conversa de hoje vai em outro sentido. Como é a organização ideal e o que ela busca?Comecemos pela dica final da última conversa: limpe a cuca. Pegue uma folha de papel em branco. Desenhe: como seria sua empresa hoje se você pudesse começá-la do zero? Esqueça qualquer tipo de restrição. Free your mind… and your ass will follow¹.
Difícil? Só nos primeiros cinco minutos. Mas o exercício é mais produtivo e divertido quando feito em grupo. De uma forma ou de outra, tentarei ajudá-la(o).
Qual é o seu IDEAL? Digo, o IDEAL da empresa? Normalmente a gente chama isso de MISSÃO. Mas, por favor, não me venha com aquelas platitudes que não tirariam nem o maior dos CDFs da cama. Nada de “desenvolver produtos e serviços de alta qualidade e atender clientes com a máxima atenção através de uma equipe de colaboradores ultra motivados…“ Declarações assim servem pra qualquer um. O que significa dizer que não servem pra ninguém! Um ideal deve ser único – é o DNA de sua organização. Enfim, o IDEAL é uma CAUSA. É a RAZÃO da empresa existir.
Um Ideal bem elaborado nunca será atingido. É como dividir 1 pela metade e seguir dividindo. Impossível chegar ao zero. Mas sempre estaremos mais próximos. Para tanto, um ideal bem elaborado também é motivador. Pense no Google (organizar todas as informações do mundo…) ou na Coca-Cola (refrescar o mundo). Lembre-se também dos péssimos exemplos que vê por aí. E responda: por que sua empresa existe? Por que ela faria falta?
A Lista de Desejos
Você comprou um terreno. Agora, ao lado do cônjuge e dos herdeiros, conversa com um arquiteto sobre todos os Atributos da casa a ser construída. Ops… nossa Arquitetura é outra.
E o que precisamos especificar agora são os grandes atributos do negócio ideal. Atributos Gerais, da Organização, do Estilo Gerencial, das Pessoas, Produtos e Serviços, Marketing, Instalações etc. Lembre-se: é como se você estivesse começando do zero. Quais atributos caracterizariam sua empresa HOJE? Visão com 2km de extensão x 2cm de profundidade. Em planejamento, a abrangência é mais importante que a profundidade.
Está aqui uma de nossas principais armas para domar o monstro do tempo. Uma VISÃO tradicional é posicionada em um ponto no futuro. Um, cinco ou dez anos a partir de sua elaboração. Para tanto é necessário um conjunto de previsões (forecasts). Trata-se de um belo exercício que envolve um tanto de chutes e alguma ciência. A experiência nos mostra que não somos muito bons nesse negócio de prever o futuro².
Por isso, o método aqui proposto é um tanto diferente. Não foi pedido que você descreva como estará sua empresa no ano que vem ou depois disso. A pergunta é outra: como você gostaria que a empresa estivesse HOJE? Livre-se das restrições auto-impostas e daquelas que viriam de fora. Não pense em custos ou investimentos. Concentre-se apenas no desenho da empresa ideal. Quais características ela teria? O quão bela seria? Quantos talentos ela atrairia por ser desafiadora e inspiradora? Sonhe. Aproveite que esse exercício ainda é isento de impostos. E anote tudo. Ou melhor, desenhe.
Questão de Ordem
Quando falamos sobre fins e sua inevitável hierarquia utilizamos uma série de termos como se fossem sinônimos. A confusão abunda³. Por isso são sugeridas as seguintes definições:
- Ideal: é o fim que nunca será alcançado. É uma Causa, uma MISSÃO.
- Objetivos: são de longo prazo. Seu conjunto forma uma VISÃO.
- Metas: fins alcançáveis no curto prazo.
Seu time pretende ser um dos maiores do mundo . Para tanto, ele projeta ganhar a Libertadores e o Mundial de Clubes do ano que vem . Nada disso acontecerá se ele não acertar o gol no próximo final de semana. Exemplo bobinho porém didático. Quando planejamos fins, sempre há ou deveria haver uma hierarquia. E cada mínima meta ou requisito deve ser rastreado até o topo, até o Ideal.
A lista de desejos pode apresentar objetivos e metas. Hora de aumentar nossa compreensão sobre eles. Para cada um, tente responder as seguintes questões:
- Quais métricas indicariam que aquele objetivo foi atingido?
Pense em medições quantitativas e qualitativas. - Como verificaremos isso?
Quais fontes serão consultadas para obtenção das medidas? - Quais condições devem ser verdadeiras para que o objetivo seja alcançado?
Pense em premissas e suposições.
O exercício pede tempo, espaço e cuca fresca. Mas não tem nada de complicado. Insisto: se você ficou meio agarrado (ê mineiro!) em algum ponto, fale comigo. Ao tentar te ajudar estarei aprendendo também. Acho que a troca é justa.
Como fazer uma organização alcançar o futuro que almeja? Aproximando-a diariamente de seu Desenho Ideal. Sacou a importância do desenho que você fez hoje? No próximo capítulo, como era de se esperar, conversaremos sobre o planejamento de meios. Inté!
Notas
- Nome de um discaço do Funkadelic. De um tempo em que funk significava outra coisa. E, convenhamos, “free your mind… and your ass will follow” é bem melhor que o desgastado e mal usado “pense fora da caixa”.
- Há uma grande diferença entre previsões (forecasts) e suposições (assumptions). A primeira trata de probabilidades. A segunda, de possibilidades. Você não carrega um pneu estepe porque previu um estouro. Um pneu furado é uma possibilidade. E o estepe é seu plano de contingência. Tks Ackoff!!
- Veja, por exemplo, este artigo de Jurgen Appelo (em inglês). Outro modelo, outra maneira de entender termos que são ou parecem ser intercambiáveis. Não é matemática – não é uma questão de certo ou errado. Até porque todos os modelos estão errados mesmo…
- Jef Safi capricha nas montagens e respectivos nomes. dıs(rε)choosıng paradıgm shıƒts . . é o título da imagem de hoje.