Convite para uma reflexão sobre a série +Requisitos +Conversas.

Os dois últimos capítulos – que, dentre outras coisas, mostraram como planejar reuniões e fazer perguntas – trataram de um trabalho bem miúdo do analista de negócios, um trabalho de formiguinha. É curioso como temas assim não merecem muito espaço. Sumiram dos currículos de TI e raramente aparecem em livros ou eventos da área. Será que os temas menores, aparentemente pouco charmosos, são mesmo desimportantes?

Quantas vezes você participou de reuniões que foram pura perda de tempo? Quantas vezes você viu ou foi um facilitador munido de um roteiro eficaz, com questões que foram pensadas e bem ordenadas? Se você participou de um projeto guiado pelo Scrum, com que frequência percebeu que os eventos de planejamento, revisão ou retrospectiva foram planejados e bem executados?

Não é de hoje que convivemos com o mau improviso em reuniões e entrevistas, coisa que aqui em Pindorama conhecemos como jeitinho. É possível que a maioria que o comete o faça por pura falta de conhecimento. Afinal, nem na escola nem no trabalho lhes foi ensinado como planejar e executar eventos que buscam resolver problemas, explorar requisitos, apresentar alternativas de solução etc. Mas também existem, e não são poucos, aqueles que acham que esse papo é bobagem. Confiam em sua agilidade mental e vasta memória.

Velocidade de raciocínio e boa memória são qualidades esperadas de qualquer trabalhador do conhecimento. Mas elas nunca substituem um bom planejamento. Cabe uma comparação com bandas de Jazz, estilo musical onde o improviso é característica fundamental.

Charlie ‘Bird’ Parker e Lester ‘Prez’ Young sempre ensaiavam com suas bandas. Faziam isso durante todo o dia. Ou toda a tarde, dependendo da ressaca. Mas a cada show, nos clubes noturnos, as músicas ganhavam caminhos diferentes. O mundo real sempre será diferente daquele que foi planejado. Bird e Prez forçavam as mudanças ao alterar seus solos. Mas o faziam em cima de bases exaustivamente ensaiadas. Era a base que dava segurança, sustentação para seus belos voos solo. Este é o bom improviso, aquele realizado sobre uma base segura – sobre algo que foi planejado/ensaiado.

Um dia perguntaram para Fred Brooks como um projeto pode ficar com atraso de um ano. “Um dia de cada vez”, ele respondeu. Tudo o que é grande em um projeto, seja bom ou ruim, é resultado de diversas coisas miúdas. Perguntas bem pensadas, apresentadas em eventos bem organizados, geram respostas e requisitos mais ricos. É com estes pequenos tijolos que se fazem os projetos bem sucedidos.