Quando os arquitetos de negócios pintaram no horizonte algumas questões foram colocadas instantaneamente: e agora, o que será dos analistas de negócios? A arquitetura é um desafio? O que ela apresenta de diferente? E quais seriam as justificativas para sua adoção? Há de fato um confronto com a Análise de Negócios?
Driblando a verborrágica definição apresentada no BABoK®, podemos entender que a Análise de Negócios apoia as atividades de descoberta e desenvolvimento de soluções. É natural vincular tal definição ao trabalho em projetos. O BABoK®, em sua versão atual¹, nos empurra neste sentido. O FAN também. Mas este tenta deixar claro que analistas de negócios podem dar contribuições bastante valiosas no dia a dia de uma organização, em áreas como gestão de conhecimentos, gestão de relacionamentos e qualidade, por exemplo. Em empresas prestadoras de serviços eles parecem ter nascido para atividades de pré-vendas. Enfim, a análise de negócios não se limita a projetos.
O BizBok™ define a Arquitetura de Negócios como um “blueprint que provê entendimento compartilhado da organização e é utilizada para alinhar objetivos estratégicos e demandas táticas”. Apesar de negar essa característica em outros pontos, o BizBok™ nitidamente apresenta a arquitetura como uma coisa – blueprint – e não um processo. Independente disso é clara a colocação estratégica, a busca por uma alta posição na organização. Posição que não estaria vinculada a nenhum projeto específico. Pela definição acima, a arquitetura gera e define projetos (para alinhar objetivos e demandas).
Seria esta a principal diferença entre análise e arquitetura de negócios? Enquanto a primeira tem caráter operacional e é atrelada a projetos a segunda fica com o filé estratégico, orientando portfólios e iniciativas de grande valor? Não é bem assim.
Uma das primeiras apresentações do arquiteto de negócios soou um tanto patética. O Infoworld, em junho de 2011, apresentou o arquiteto como a profissão mais quente de TI. Mas destacou que ele é “do negócio” e se reporta ao CEO. Como assim, a profissão mais quente de TI não é de TI? O arquiteto seria um tipo de CIO totalmente isento das agruras do dia a dia? Um monte de gente adoraria isso. Mas é por essas e outras que não parece ser uma boa ideia apostar em arquitetos de negócios. O que não nos livra de estudar arquitetura.
A arquitetura nos ajuda a entender, descrever, examinar e explorar negócios. Eu poderia trocar a palavra “examinar” por “analisar”. Isso criaria problemas. Porque permitiria interpretar a análise de negócios como um subconjunto da arquitetura. Não custa repetir: o termo análise é muito ruim e não traduz tudo o que um analista de negócios faz ou poderia fazer. Ele não faz só exames! Assim como ele não se limita a entender, descrever e explorar negócios. O analista precisa resolver problemas. E essa leitura nos permite dizer que a análise de negócios, apesar do nome, é maior que a arquitetura de negócios.
A próxima versão do guia BABoK® propõe entendimento semelhante. Só é uma pena que ela jogue a Arquitetura de Negócios em um balaio chamado Perspectivas que também reúne TI, BI, Agile e BPM². Como ainda não conheço a nova versão, devo conter minhas críticas. Mas não posso deixar de falar que o BABoK®, ao que tudo indica, seguirá maltratando a modelagem e, consequentemente, a arquitetura de negócios.
Porque esta distinção – arquitetura X modelagem – é mais difícil de ser feita. Os objetivos de ambas são idênticos: entender, descrever, examinar e explorar um negócio e seu ambiente. Se utilizamos nomes diferentes, talvez seja porque queiramos livrar uma (a arquitetura) dos vícios e mal entendidos da outra (modelagem). Modelagem sempre teve um vínculo com coisas, com terríveis e temíveis entregáveis (sic). Quase sempre é relacionada com uma documentação que só faz acumular pó. A arquitetura, por sua vez, propõe uma reflexão constante. Pretende ser um processo e também um jeito de pensar negócios. Neste sentido, o analista de negócios deve recebê-la como um novo conjunto de ferramentas. Que o ajudará não só a resolver problemas, mas também a evitá-los. A arquitetura está mais para isso, um “toolkit”, do que para uma “perspectiva” ou um mero “blueprint”.
Só o tempo dirá se as diferenças entre análise e arquitetura de negócios serão interpretadas da forma como foi sugerido acima. Ainda não é possível descartar nem mesmo o surgimento de arquitetos de negócios. Aos analistas deve ficar uma certeza: a arquitetura de negócios precisa ser estudada. Se pretendemos realizar a promessa do BABoK® v3 – catapultar a análise de negócios para uma relevância estratégica – então a arquitetura precisa ser praticada.
Notas
- Este artigo foi publicado poucos dias antes do lançamento da versão para revisão pública do BABoK v3.
- Em empresas meio bagunçadas, a contabilidade é repleta de Contas Diversas. O BABoK® já tem uma conta genérica chamada Competências Fundamentais. Agora cria outra, a tal Perspectivas. Se seguir nessa toada, conseguirá bater o recorde de pontas soltas num bok. Atualmente este recorde pertence ao BizBok™. Saca só.
- “better shot of the spiral“, a imagem que ilustra este artigo, é de autoria do zen Sutherland.