Semana passada sugeri uma forma alternativa de apresentar e justificar a adoção de um ciclo de vida para projetos baseado no modelo Iterativo & Incremental. Deveríamos enfatizar a certeza de que todos cometerão erros em detrimento do destaque dado às inevitáveis mudanças.

Faltou dizer que muito do que chamamos de mudanças são na realidade erros. Usuários e clientes não são obrigados a aprovar o primeiro produto que recebem, por precisas e assinadas que sejam atas, especificações de casos de uso ou afins. Há mais mistérios entre requisitos e o produto final do que imagina nossa vã filosofia. E essa distância sempre exigirá, em alguma medida, um processo de tentativa e erro. Esse tipo de mudança é sim um erro. Muitos não gostam da palavrinha ou de admitir que erram. Mas deveríamos classificar melhor aquilo que chamamos de erros e mudanças. Papo para outra hora.

Porque hoje eu gostaria de destacar um segundo fator que justifica a adoção do modelo Iterativo & Incremental: as pequenas vitórias. Assim como é indiscutível que o ser humano erra, também é indissociável de nossa natureza a necessidade de motivação – de uma recarga quase diária de nossas baterias. Em projetos não bastam seus objetivos, por nobres e ambiciosos que sejam, nem eventuais compensações financeiras. Imagine um campeonato de futebol, curto como uma Copa do Mundo ou longo (e cansativo) como o Brasileirão. Os times e jogadores comemoram cada vitória e cada gol. No vôlei, um jogo definido após dezenas de pontos, cada um deles é comemorado. Cada gol ou ponto é uma pequena vitória. Elas são tão cruciais para uma equipe de projetos como são para os jogadores.

Em projetos tocados segundo moldes convencionais, particularmente no popular “cascata”, há pouco espaço para comemorações intermediárias. Por mais que equipe e coordenadores soltem foguetes para um documento de visão bem escrito ou uma coleção de especificações e modelos “nota 10”, o fato é que não há torcida nem usuários ou clientes compartilhando aquele momento e muito menos incentivando-o. É como uma vitória em treino, fechada e sem valor.

A vitória que conta, por menor que seja, tem participação direta do público externo – dos usuários e clientes. E eles sabem que documentos e modelos não valem como gols e pontos. Ou seja, não substituem o produto final.

Um projeto guiado pelo modelo Iterativo & Incremental supõe a comemoração de várias pequenas vitórias. Admite sim alguns revezes, como vimos no artigo anterior. Mas, exatamente por conta deste fator, torna a vitória final mais factível. Cada entrega, iteração ou gol é motivo para celebração. E isso ajuda a renovar o ânimo do time. No contexto de projetos há outros efeitos colaterais bastante benéficos, sendo o principal deles o aprendizado. O time tem a chance de rever seus erros e acertos, o que possibilita uma melhor preparação do próximo ataque, jogo ou iteração.

Imagine um zero a zero arrastado e chato. Pior ainda, decidido nos pênaltis. Compare com uma sonora goleada, um jogo aberto e bonito de se ver, com placar final de 5 a 3. Qual você prefere?

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Goal“, a foto utilizada neste artigo, é do Jonas B.