Simples, não simplista nem simplória. O Dono de Produtos nos ajuda a lidar com a complexidade sem complicação. Sua função é inspirar e orientar o desenvolvimento de soluções criativas. É fácil explicar e justificar o PO. A gente é que complica.

O Dono de Produtos é, por natureza, um Integrador¹. Um recurso utilizado pelas organizações para promover cooperação desafiando silos e amarrando pontas soltas. Um integrador é muito diferente dos coordenadores, supervisores e afins. A falta destes não é sentida quando executamos um trabalho. O mesmo não pode ser dito dos integradores. Dependemos deles. E eles têm todo o interesse em participar e cooperar. Porque têm “a pele em jogo”. E, para tanto, têm poder.

A última palavrinha – poder – sintetiza boa parte dos problemas colocados anteriormente. “Poder” carrega uma bagagem pesada, consequência do mau uso e péssimos exemplos. Não precisa ser assim. Se o poder é utilizado para promover cooperação, ele não tem nada de negativo. Também é preciso entender que o poder, assim como o conhecimento, não é reduzido quando compartilhado, pelo contrário².

Não é recomendado que gerentes de produtos ou equivalentes assumam a função de PO. Porque eles têm outros compromissos e prioridades. Um PO deve se dedicar exclusivamente à sua criação. Segundo Sutherland³, metade do tempo com os clientes e usuários e a outra metade com o time de desenvolvimento. Podemos ser mais flexíveis no rateio da agenda. Na dedicação em período integral, não.

Por isso o gráfico ao lado, sugerido por Mike Cohn em Succeeding with Agile (Addison-Wesley, 2009), é uma entre outras coisas da literatura Agile “clássica” que precisamos desaprender. O PO começa com carga máxima. Aliás, a escolha do PO é o nosso primeiro desafio. Experimente, Meça (inspecione), Desaprenda e Aprenda – sem parar!

Quando fortalece o PO um gerente de produtos não está perdendo nem um pouco de seu poder. Além disso, ele está satisfazendo um requisito fundamental para a verdadeira agilidade: autonomia.

Ah, mas o gerente não confia em ninguém para assumir as responsabilidades de um PO. Ninguém? Quem contratou essa gente? Quem pediu ou autorizou a contratação? Se ninguém serve, pra que serviu o gerente?

O PO é uma solução simples. A gente é que complica.

Notas

  1. Reforçar Integradores é a segunda das seis regras simples – Six Simple Rules, de Yves Morieux e Peter Tollman (HBR Press, 2014).
  2. A terceira regra fala em aumentar a quantidade total de poder. Para as outras regras: compre o livro, continue seguindo o finito e considere um mergulho no SEA.
  3. Scrum (Leya, 2014).
  4. Simple & Obvious foi compartilhada por Emma Jane Hogbin Westby no flickr.